Estamos em pleno período epidémico da gripe em Portugal. Entrámos nesta fase em meados de dezembro, com uma intensidade superior à do ano passado, que foi particularmente benévolo. A seguir a um ano bom, costuma vir uma época de gripe mais dura. É a estatística e a biologia que o mostram. Acumulam-se pessoas suscetíveis, que não têm defesas contra os vírus em circulação.
Ainda por cima, este ano a estirpe dominante é o H3N2, conhecido por ser particularmente agressivo para as populações mais frágeis, como os idosos. “No intervalo de uma década, há três epidemias por H3, que poupa os mais novos mas é mais nociva para os mais velhos”, sublinhou à VISÃO o pneumologista, e consultor da Direção-Geral da Saúde, Filipe Froes. Além disso, em epidemias de H3, a vacina mostra-se menos eficaz – o que justifica o facto de 40% das pessoas internadas por complicações da gripe terem sido vacinadas.
“As pessoas têm de perceber que a gripe é uma coisa séria. Temos muita margem para progredir em termos de prevenção”, garante a diretora do Centro de Estudos de Avaliação em Saúde, da Associação Nacional das Farmácias, Suzete Costa. “Já tivemos coberturas vacinais mais elevadas. Em 2008/09, atingimos os 53% na população com mais de 65 anos. No ano passado não ultrapassámos os 50,9%”, revela a especialista.
Perguntas e Respostas
Qual é a diferença entre gripe e constipação?
São ambas infeções respiratórias, que causam corrimento no nariz, dores de garganta, tosse, febre e mal-estar. No entanto, os vírus que causam uma e outra são diferentes. E a gripe tem algumas características particulares, como sejam o aparecimento súbito de febre e tosse. O diagnóstico definitivo só é possível mediante um teste de laboratório.
Como se apanha a gripe?
Os sintomas começam 18 horas a quatro dias depois da exposição ao vírus. O contágio ocorre através das gotículas expelidas pela tosse ou pelos espirros de uma pessoa infetada. Mesas, maçanetas da porta e teclados são importantes fontes de contaminação.
Porque é que devo preocupar-me com a gripe?
Na maior parte dos casos, a infeção pelo vírus Influenza é de evolução benigna. Três dias de cama, mais três ou quatro ainda a tossir e a assoar o nariz, e pronto. No entanto, o vírus pode infetar os pulmões, causando pneumonia, que é uma doença séria e pode exigir internamento e até levar à morte. Pessoas com asma ou patologias crónicas, como diabetes ou hipertensão, ou com o sistema imunitário comprometido estão em maior risco de desenvolver complicações.
Vacinei-me o ano passado. Tenho de voltar a vacinar-me?
Sim. Os vírus Influenza estão sempre a modificar-se, escapando ao nosso sistema imunitário. Por isso, a vacina do ano passado pode não oferecer proteção contra as estirpes em circulação nesta época gripal. A previsão relativamente às estirpes que irão dominar no inverno é feita na primavera anterior.
Três formas de travar a gripe
Vacinar
O modo mais eficaz e certeiro de prevenir a gripe é através da vacinação. Estão mais do que demonstradas, em inúmeros estudos científicos, as vantagens: proteção contra as estirpes virais que estão na injeção, e que este ano coincidem com as mais comuns em circulação, e ainda proteção (dita cruzada) relativamente a estirpes aparentadas. Prevenir a gripe também evita o aparecimento de outras patologias, que surgem por vezes no rescaldo, como as pneumonias. Além destes efeitos a nível individual, há um benefício coletivo – uma pessoa protegida não contamina outras.
Parar a disseminação
Se estiver com gripe, fique em casa e restrinja os contactos sociais. Use máscara, respeite a etiqueta da tosse (tussa e espirre para o cotovelo) e lave as mãos muitas vezes, sobretudo depois de se assoar. Use lenços de papel descartáveis e atire-os para o lixo a cada utilização.
Medicar
Para a grande maioria das pessoas, o tratamento da gripe restringe-se ao alívio dos sintomas. Mas em alguns casos, como os doentes de risco, pode ser necessário recorrer a um antiviral. Sob estrita recomendação do médico.