Desde o final de outubro de 2017 que Asia Bibi se encontrava sob proteção policial, depois de o supremo tribunal do Paquistão ter revogado a sua condenação à morte por blasfémia. O advogado de Bibi confirmou ao The Guardian que a paquistanesa aterrou esta terça-feira, 7 de maio, no Canadá, onde se reunirá com a família e voltará a ser uma mulher livre.
A paquistanesa, casada e mãe de duas filhas, foi acusada de blasfémia há cerca de 10 anos, quando bebeu água da mesma caneca que outras mulheres muçulmanas com quem trabalhava nos campos. As mulheres exigiram então que Asia se convertesse ao Islão, e como esta se recusou, acusaram-na de blasfémia contra Maomé junto do imã da comunidade. Depois de ter sido arrastada de sua casa e espancada, cerca de cinco dias depois do ocorrido, Bibi foi presa e assim permaneceu no corredor da morte durante os últimos anos, depois de ter sido condenada à forca.
O supremo tribunal decidiria, no ano passado, que não havia provas suficientes para a acusação e ilibou-a totalmente. O Canadá já se tinha oferecido para dar asilo a Bibi, mas esta foi aconselhada a esperar pela autorização das autoridades para abandonar o país. As suas duas filhas, no entanto, já tinham voado para o Canadá, onde esperavam a chegada da mãe.
O caso de Bibi chamou a atenção de ativistas de direitos humanos e de movimentos cristãos, que durante estes anos tentaram garantir que a sentença não era executada – a mediatização do caso foi tal que, em 2011, o governador Punjab Salman Taseer foi assassinado por um dos seus próprios guardas pessoais, por ter publicamente intercedido a favor de Bibi. O ministro Shahbaz Bhatti, que também era a favor da libertação de Bibi, foi assassinado no mesmo ano por um grupo Taliban.
Asia Bibi foi a primeira mulher a ser condenada à morte por blasfémia. No ano passado, antes de a decisão do Supremo Tribunal ser conhecida, o marido, Ashiq Masih, garantia que, apesar de estar encarcerada há oito anos, a mulher era “espiritualmente forte” e estava “disposta a morrer por Cristo”, se fosse o caso.
No Paquistão, um país com cerca de 200 milhões de habitantes, há pouco mais de um milhão de paquistaneses católicos (e outros tantos protestantes, o que eleva a comunidade cristã a 1,6% do total da população) e a própria Constituição discrimina-os, não sendo possível a qualquer não muçulmano ocupar o cargo de Presidente ou primeiro-ministro daquele país. Ao longo dos anos, a violência contra a comunidade cristã tem aumentado naquele país, sendo relativamente comum haver ataques concertados a grupos que estejam reunidos, ou espancamentos aleatórios por muçulmanos radicais.
Dados recentes da fundação de direito pontifício “Ajuda à Igreja que Sofre” revelaram que um cristão em cada sete vive num país onde a perseguição é uma realidade dramática: são atualmente 300 milhões as pessoas que professam a fé cristã e sofrem de algum tipo de discriminação ou perseguição.