Poucas horas depois de ter sido eleita para liderar a Câmara dos Representantes, a democrata Nancy Pelosi enviou, como seria esperado, um convite formal ao presidente dos EUA, para que endereçasse aos americanos o habitual discurso sobre o ‘State of the Union’ (ou Estado da Nação) no dia 29 de janeiro. No entanto, esta quarta-feira, 16, Pelosi mostrou por que razão, aos 78 ainda é uma das políticas mais influentes do partido democrata. “Desde o início da política orçamental moderna, no ano fiscal de 1977, nunca um discurso de ‘State of the Union’ foi proferido durante um ‘shtudown’ governamental”, declarou a responsável numa comunicação oficial enviada a Donald Trump, justificando esta prerrogativa com o facto de haver várias agências governamentais, nomeadamente os serviços secretos, que estão sem receber desde o dia 21 de dezembro naquele que já é a maior paralisação da História governativa dos EUA. “Infelizmente, tendo em conta as preocupações relacionadas com a segurança e a menos que o Governo reabra esta semana, sugiro que trabalhemos juntos para determinar uma outra data para que possa endereçar ao país o seu discurso, quando os serviços reabrirem, ou que considere falar à nação por escrito, entregando a mensagem ao Congresso no dia 29 de janeiro”, lê-se no mesmo documento, entretanto tornado público.
Para os analistas norte-americanos, a utilização do verbo ‘sugerir’ foi apenas uma delicadeza. O discurso está cancelado e não há nada que Trump possa fazer em relação a isso, uma vez que cabe a Pelosi decidir quando e onde este pode acontecer. O histórico democrata Steny Hoyer, segunda figura da Câmara dos Representantes, confirmou à CNN que “o Estado da União está cancelado” e avisou que esta mensagem é clara no seu intuito: “enquanto o shutdown se mantiver, as coisas não funcionarão como dantes”.
A grande dúvida agora é sobre a decisão que Donald Trump vai tomar. O ‘State of the Union’ é um dos discursos mais esperados de qualquer presidência no início do ano civil, e Trump pode decidir-se a falar em sem “a bênção do Congresso”, vaticinava a Vanity Fair, depois de Pelosi ter dito aos jornalistas que “ele pode falar desde a Sala Oval, se quiser”. No entanto, o impacto de uma decisão desse género deverá ser mínimo nos eleitores, exatamente ao contrário daquilo que é o objetivo.
Recorde-se que esta paralisação governamental aconteceu devido à discordância entre democratas e republicanos sobre o Orçamento para 2019, onde Donald Trump exige que seja considerada uma verba superior a 5 milhões de dólares para financiar o muro na fronteira com o México. Para os democratas, esta é uma medida inaceitável, e enquanto o impasse se mantiver, há vários serviços públicos que continuarão paralisados e com salários em atraso – atualmente são já mais de 800 mil os funcionários públicos americanos que estão sem receber.
Até agora não há sinais de cedência de qualquer um dos partidos.