Em tempos que já lá vão, num mundo para além de tudo, havia quatro amigos cada um mais estranho do que o outro. Um chamava-se Liko e tinha quatro orelhas, dois pares de olhos, duas bocas, mas não tinha umbigo. Com tantas orelhas, olhos e bocas fazia sempre o dobro do normal. Ele era muito tímido e por qualquer coisinha escondia-se ou fugia com medo.
O Liko tinha um irmão que, por acaso, se chamava Like. Like era igualzinho fisicamente ao seu irmão mas, psicologicamente, era completamente o oposto: não se assustava com nada e era aventureiro.
Havia também a Lolita que vivia com a sua tetra-avó pois a mãe e o pai dela tinha feito uma grande viagem e nunca mais regressaram. Por esse motivo, tinha um comportamento um pouco estranho, ria e chorava simultaneamente, sem qualquer razão aparente. Os amigos já sabiam como reagir quando isto se passava: quase do nada, arranjavam brincadeiras e truques de magia para a entreter. Focando ela toda a sua atenção nas brincadeiras improvisadas pelos amigos, rapidamente voltava ao estado “normal”. Ela era muito feminina, não podia sair da sua casinha sem cinco camadas de maquilhagem, uns sapatos de saltos altíssimos, roupa caríssima que tinha comprado na loja do Senhor Lilocote, uma carteira também exageradamente cara a condizer com a roupa… mas no fundo, era boa pessoa!
A Lolita e os gémeos tinham mais uma amiga que era a Lila. A Lila tinha três braços de cada lado e era o triplo da altura dos seus amiguinhos, até era mais alta do que os seus pais! O sonho dela era conhecer pessoas diferentes e de outros mundos.
No mundo onde estes amigos viviam existia de tudo: monstros, fadas, gnomos, extraterrestres…
Havia uma lei muito antiga e especial para todos estes habitantes, que passava de geração em geração: a letra com que iniciava o nome de cada cidade era igualmente a que se encontrava no início do nome de cada habitante, mas nenhum nome podia ser repetido. Digam lá, como devia ser difícil para os pais arranjarem um nome que nunca nenhuma pessoa o tivesse naquela cidade! Todas estas pessoas tinham nomes começados por L porque a cidade se chamava Litólândia.
Na Litólândia as crianças é que tinham de inventar as suas próprias brincadeiras e jogos. Os gémeos, a Lolita e a Lila inventaram milhares e milhares de jogos mas o que mais gostavam era o “esconde, procura e ganha” que tinha sido inventado pela Lolita. Nesse jogo, cada um tinha de encontrar um produto de maquilhagem que um dos quatro tinha escondido, no fim de dez partidas o que encontrasse mais, ganhava o fantástico jogo!
Um dia logo pela manhã, os gémeos e a Lolita foram visitar a Lila que ainda devia estar a dormir. Quando chegaram a casa dela encontraram-na a ler um livro sobre planetas de outras galáxias.
– Porque é que estás a ler essa coisa cheia de letras e páginas, – questionou a Lolita quase a ter um ataque de riso – se essas coisas não existem?
– Porquê? Ainda perguntas? Isto é a melhor coisa que eu já vi! Planeta com pessoas diferentes tal como eu sonhava, – respondeu ela excitada – tu devias experimentar!
– Só se falasse de maquilhagem, moda e truques de beleza – retorquiu ela já a rir.
Como os três amigos viram que a Lolita estava a ter um ataque de riso, começaram a fazer truques de magia, a cantar canções de embalar…
Depois de ela se calmar a Lila confessou aos amigos que o seu maior desejo era ir a um planeta que em tudo era diferente do deles e que, segundo o livro, se chamava Terra.
Os seus amigos ao regressar a casa começaram a pensar no assunto e o Liko, que era o mais esperto, teve uma grande ideia: podiam inventar uma máquina de teletransportação que levaria a Lila onde ela desejasse! Todos concordaram e combinaram realizar tudo em segredo para fazer uma grande surpresa à sua amiga.
Durante quarenta e quatro dias tentaram fazer aquela avançada tecnologia, mas chegaram à conclusão que não iriam conseguir com as ferramentas que possuíam. Muito desanimados, foram passear para o jardim central de Litólândia. Esse jardim tinha variada flores e plantas: pequenas gigantes, largas, estreitas… mas o que mais interessava naquele jardim era o facto de todas aquelas plantas serem mágicas e terem uma poderosa essência que permitia fazer com elas tudo o que as pessoas desejassem.
– Se ao menos com estas flores e plantas conseguíssemos fazer as ferramentas. – disse a Lolita, pensando, logo de seguida, que isso devia ter sido a ideia mais parva que os amigos algum dia tinham ouvido.
– Tiveste uma ideia genial! – exclamaram os gémeos em coro.
– Eu…eu…pois, pois tive… – disse a Lolita sem perceber.
Liko vendo que a sua amiga não tinha percebido onde eles queriam chegar, começou a explicar que em vez de utilizarem ferramentas poderiam utilizar a essência daquelas plantas para construir a máquina de teletransportação.
Iniciaram então a sua construção, tendo concluído que se tivessem utilizado aquelas ferramentas de certeza que não teriam obtido melhores resultados. Depois de a acabarem foram até a casa da Lila para lhe entregar a máquina. Quando lá chegaram dirigiram-se ao pé dela e …
– Surpresa! – gritaram os gémeos e a Lolita.
Vendo aquela máquina esquisita a Lila perguntou:
– O que é essa coisa tão esquisita?
– É uma máquina de teletransportação, – respondeu o Liko muito excitado – tu disseste que adorarias visitar outros mundos! Gostas?
– Adoro, vou já fazer a mala para partir o mais depressa possível! – respondeu ela.
Lila fez a mala e partiu de viagem, andou por vários mundos e planetas nunca vistos. Alguns, quando observados do espaço, tinham bolinhas, riscas, até havia um com corações! Apesar de ela ter encontrado planetas curiosos, o que mais queria era encontrar o planeta Terra. Procurou, procurou, procurou até que avistou um planeta em tons de azul e verde, muito pequenino no meio de todos ou outros. Segundo o livro que ela lera há muito tempo sobre os planetas de outras galáxias aquele era, sem dúvida alguma, o planeta Terra!
Teletransportou-se até ao planeta então descoberto e foi aterrar no jardim da minha casa. Vendo que a porta estava aberta, decidiu entrar, subiu as escadas e dirigiu-se ao meu quarto onde me encontrava a trabalhar no computador. Quando olhámos uma para a outra desatámos a gritar, completamente em pânico, ela porque nunca tinha visto uma pessoa sem vários braços, olhos, orelhas, bocas… e eu porque, inversamente, nunca tinha visto uma pessoa tão estranha!
Enfim, refeitas ambas deste grande susto, apresentámo-nos e descrevemos o mais importante do mundo de cada uma, falámos dos nossos amigos… Passadas algumas horas apresentei-lhe os meus pais e combinámos que ela ficaria por uns dias em nossa casa, mas em absoluto segredo, uma vez que ninguém podia saber que ela existia.
No dia da sua partida, a Lila convidou-me para ir visitar o seu mundo, eu concordei, pois também estava desejosa de conhecer outros mundos para além do meu. Lá fomos, quando cheguei ela mostrou-me Litólândia e quando os habitantes muito estranhos me viam fugiam com medo. A Lila ia atrás deles e explicava-lhes tudo… Após alguns momentos, ela apresentou-me seus amigos. Eu, a Lila, a Lolita e os gémeos fomos brincar ao “esconde, procura e ganha”. Fiquei a dormir na casa dela e, quando estávamos na cama, conversámos imenso.
– Parece-me que a Lolita tem um comportamento um pouco estranho, não achas?
-Sim, concordou ela, – sem razão alguma ri e chora ao mesmo tempo, afirmou Lila
– Porquê? Há alguma explicação? – insisti
Ela novamente respondeu:
– Quando ela era pequenina, a mãe dela fez uma grande viagem. Passaram-se dias, meses, anos, mas nunca mais voltou. Por esse facto é que ela ri e chora sem qualquer razão.
– E se nós, com a máquina que os teus amigos construíram, fossemos à procura da mãe dela?
A Lila achou boa ideia e, no dia seguinte, propôs isso as amigos. Todos concordaram e partimos. Passámos por vários obstáculos, conseguindo, contudo, ultrapassar todas essas dificuldades. Andámos por vários planetas e terras até que um dia eu avistei um planeta muito pequenino cheio de corações e estrelas, que dava pelo nome de Estrelândia. Decidimos ir explorá-lo e lá encontrámos vários adultos muito atarefados a pintar quadros sobre o seu planeta. Deambulámos por lá e, durante esta exploração, encontrámos uma mulher, com um ar sereno a colher flores. Ela era muito bonita, tinha cabelos loiros tal como os da Lolita e apresentava uma mancha em forma de estrela na superfície da mão direita. Quando a Lolita se aproximou aquela mancha ficou repentinamente a cintilar. Seria isto um sinal de que aquela mulher tinha alguma relação com Lolita? A verdade é que elas olharam intensamente uma para a outra e souberam “de um saber cá de dentro” que eram mãe e filha!
Depois deste encontro mágico entre a Lolita e a sua mãe, sentimos que a nossa missão estava comprida, no entanto, esta amizade que então se criara entre mim e os amigos de Lila não poderia terminar, pelo que combinámos telétransportarmo-nos sempre que o nosso coração assim o desejasse. Eu passaria alguns tempos no planeta maravilhoso da Litólândia e, por sua vez, eles viriam visitar-me de vez em quando. Seria uma espécie de intercâmbio de crianças por galáxias e planetas sem fim…