Estamos na Quinta da Malafaia, Arruda dos Vinhos, a 40 km de Lisboa. Às portas do fim de semana, Filipa prepara-se para mais uma visita à Quina e à Zangada, as éguas com quem aprendeu a conhecer-se melhor a si mesma. Com 12 anos, acabados de fazer, a leitora da VISÃO Júnior apresenta-se vestida para a ocasião: botas, calça justa e um colete com motivos de cavalos. O amor por eles ganhou forma no verão passado e transformou-lhe a vida.
Tudo começou por acaso, num Dia da Criança. “Ó mãe, quero andar, nunca experimentei!” O cerco de areia com fardos de palha e cavalos para os miúdos montarem, à porta do supermercado, fez o coração de Filipa bater de emoção. “Só se tiveres boas notas”, desafiou-a a mãe. Isabel Barão sabia que a filha tinha um chumbo às costas e aguardou pela saída das notas. A passagem de ano valeu-lhe o tão desejado estágio.
“Eu ensinava-a a montar e ela, em troca, ajudava no trabalho com os animais”, explica Maria João Gonzaga, a equitadora de 27 anos que proporcionou a experiência. O trabalho com os quatro cavalos lusitanos começava às oito da manhã e era exigente! Filipa dava-lhes ração, tirava os cocós e punha palha nova nas cavalariças – chama-se a isto “fazer as camas” – limpava-lhes os cascos, ajudava a escová-los. Depois, vinham os exercícios do volteio – “sobre o animal, agarrada a uma guia, para perder o medo” -, ora sem mãos, ora sem pés e, até, deitada sobre o dorso da égua. Quando ganhou à vontade, passou à fase seguinte: montar com sela.
Ao fim de um ano, Filipa realizou o seu sonho. “Ando a passo, a trote e a galope e gosto de sentir o vento na cara!” As conquistas não se ficam por aqui. “Ganhei confiança em mim e subi as notas na escola!” Maria João compreende-a. Também ela chumbou na escola, quando andava no quinto ano: “Chegava aos testes a tremer e bloqueava. O meu pai levou-me a um centro equestre e recuperei a minha segurança ao lado dos cavalos.” E como é que isso se faz? “Eles sentem quando estamos nervosos, temos de passar uma boa energia para eles ficarem calmos e seguirem em frente, sem se assustarem.”
No picadeiro, a Zangada aguarda a Filipa, para mais uma voltinha. Com o capacete colocado, a nossa cavaleira faz-lhe festas e avança para um passeio a duas, entre as vinhas coloridas da quinta. Com um olhar de agradecimento à mãe, que a apoiou nesta aventura, Filipa deixa pistas simples para comunicar com o animal de grande porte: “Se ela estiver nervosa faço, chiu; para andar dou um toque com os pés e a chibata e assobio quando quero parar.”
A arte do volteio
A ginástica sobre um cavalo em movimento, chamada volteio, tem exercícios divertidos e nomes a condizer:
– Tesoura: cruzar as pernas de um lado para o outro
– Volta ao mundo: rodar 360 graus na posição sentada
– Cristo-Rei: manter-se de pé durante alguns momentos
Um bom companheiro
– Sete capacidades que treinas na relação com um equino:
– Coordenação – Atenção – Equilíbrio – Confiança – Tranquilidade – Autodomínio
– Respeito pelo outro
Primeiros passos
A partir dos cinco anos, podes aprender a comunicar com um cavalo:
– Fala com ele calmamente, sem gestos bruscos ou sons fortes
– Não o olhes nos olhos, para ele não se afastar
– Aproxima-te de lado, respeitando o campo de visão do animal
– Segura a rédea sem apertar, para não o magoar
– Respira, que ele sente-te relaxar e fica descontraído
Equinoterapia
Falar sério a brincar… com póneis Em Portugal há 25 anos, a psicóloga francesa Nathalie Durel criou um método inovador para ajudar crianças com problemas (emocionais, de rendimento escolar, etc) a sentirem-se mais felizes com a ajuda dos equinos. “Eles são um espelho de ti”, explica. Na Quinta do Cavalo, em Alcabideche, Nathalie faz sessões semanais com brincadeiras, histórias e exercícios terapêuticos. Viver experiências com um animal grande e autêntico, na natureza, “a maioria das crianças perde o medo, a irritabilidade ou a agressividade, e descobre qualidades como a confiança, a proteção ou a liderança.”