O encontro estava marcado para as 06h55, em frente à igreja, na praça de San Pedro. Era lusco-fusco quando saí do hostal. Nos dez minutos de caminhada pelo terreno acidentado, amaldiçoei esta mania dos chilenos de ‘proteger o seu céu’. Não é fácil caminhar às escuras, a esta hora da madrugada, por cima de lombas e pedregulhos.
À entrada para o autocarro que nos levaria aos 5 mil metros do ALMA, entregam-nos um kit básico para lidar com a altitude: um chapéu de abas, água, chocolates, sumos e protetor solar (a 5 mil metros, o nível de radiação solar atinge os 24, três vezes mais do que num dia de verão), não fosse alguém ter esquecido as recomendações repetidas à exaustão.
Para lidar com a altitude é preciso estar hidratado, ter um bom nível de glicose no sangue, e evitar ao máximo a radiação solar. O elemento mais aparatoso do kit foi uma garrafa de oxigénio, para usar sempre que o nível de saturação no sangue descesse abaixo dos 80% ou que as dores de cabeça e as tonturas se instalassem.
Durante a viagem do autocarro até ao planalto de Chajnantor, feita na companhia de dois paramédicos e de uma ambulância, foram-nos medido o nível de oxigénio no sangue, a cada dez minutos.
Na primeira medição, 90% e a bendita taquicardia. Na segunda, 86% e o coração nos 140. “É do aparelho, fico ansiosa”, justifiquei. Já lá em cima, Andreas Lundgren, cientista do ALMA, descansou-me: “o importante é não baixar dos 80, quer a pulsação, quer a concentração de O2. É normal que bata mais depressa, isto quer dizer que o teu coração se está a adaptar à altitude.”
A cinco mil metros o ar é tão rarefeito que nem as plantas sobrevivem. Lá em cima só há pedras, os cumes da Cordilheira e as antenas, prontas a captar a luz vinda das profundezas do Universo. Fiquei sem ar! O que vale é que a bomba de oxigénio estava mesmo à mão.