<#comment comment=”[if gte mso 9]> Normal 0 21 false false false PT X-NONE X-NONE MicrosoftInternetExplorer4 <#comment comment=”[if gte mso 9]> <#comment comment=”[if gte mso 10]>
Quando o ministro Álvaro Santos Pereira pediu que o tratassem apenas por Álvaro, apreciei o gesto, por revelar ao mesmo tempo uma preocupação ética e estética. Há um poema de Álvaro de Campos que termina com o verso “E havia luar e mar e a solidão, ó Álvaro”. A sensibilidade poética de Pessoa levou-o a optar também apenas por Álvaro, e devemos reconhecer todos que o poema não beneficiaria se terminasse com o verso “E havia luar e mar e a solidão, ó sr. ministro da Economia, da Inovação, do Emprego e do Desenvolvimento Regional”. Álvaro é, de facto, melhor e mais simples do que professor Santos Pereira, por exemplo. Mas quem sentisse desconforto perante a hipótese de tratar um ministro pelo seu nome próprio pode agora optar pela formulação “professor Álvaro” sem o ónus de se estar a referir ao seu grau académico. Não se trata de passar a designá-lo por professor Álvaro por ele ter o ofício de professor universitário, mas sim por ele ter o ofício do professor Karamba. Há-de haver qualquer coisa no gabinete do ministro da Economia que inspira o seu ocupante a lançar-se na cartomancia. Talvez seja melhor chamar profissional especializado para fumigar as instalações.
A diferença entre Manuel Pinho e Álvaro Santos Pereira é que um previu o fim da crise e o outro previu o princípio do fim da crise. Quer isto dizer que o astrólogo que nos governa agora é melhor. A previsão de Manuel Pinho não se verificou, mas a de Santos Pereira é uma constatação de facto disfarçada de profecia. Tudo o que nasce, morre – e, por isso, assim que qualquer coisa começa, assistimos ao princípio do seu fim. Nesse aspecto, o vaticínio de Santos Pereira acaba por ser inquietante. Quando decreta o princípio do fim, o ministro parece estar a associar à crise um paradoxo de Zeno. A crise tem um fim, o que reconforta, mas esse fim tem um princípio e, supõe-se, um meio e um fim, o que alarma. De acordo com Santos Pereira, para o ano estaremos no princípio do fim da crise, ficando a faltar o meio do fim da crise e o fim do fim da crise. Mas quem nos garante que o fim do fim da crise não tem, também ele, um princípio, um meio e um fim? Suponha-se que, passado o princípio do fim da crise, em 2012, chegamos ao fim do fim da crise, em 2013. Mas teremos chegado ao fim do fim do fim da crise, ou estaremos nessa altura apenas no princípio do fim do fim? E não terá o fim do fim do fim da crise também um princípio, um meio, e um fim? Se tiver, esta pode ser uma crise infinita. E, uma vez que estamos em Portugal, essa é uma possibilidade bastante forte.