“(Ainda) irás precisar de mim quando eu tiver 64?” Os Beatles e essa canção que se tornou célebre por brincar com um assunto sério. Ficar mais velho é o pesadelo de quase todos nós. Até hoje, não conheci ninguém que seja totalmente indiferente às primeiras rugas, aos primeiros cabelos brancos (na cabeça e noutras zonas do corpo onde começam, mais cedo ou mais tarde, a fazer-se notar) ou falta deles, seja qual for a cor. Com ou sem tempos de crise, esteticistas, cabeleireiros e cirurgiões nunca deixam de ter trabalho. E, seja qual for o contexto, perguntas sobre a idade correm o risco de provocar respostas embaraçosas e silêncios constrangedores.
Os estereótipos não ajudam. “Parece mal (fazer assim ou assado) para alguém da minha idade”. Ou com “uma certa idade”. Acumular anos de vida é sinónimo de decadência e uma condenação? Os resultados de pesquisas neste campo não são nada cinzentões. Pelo contrário: atributos que se julgavam associados à juventude – atraente, inteligente, flexível, positivo e feliz – parecem estar mais presentes na vida de uma pessoa a partir do meio da vida. O envelhecimento traz perdas, mas também muitos ganhos, ainda que se fale pouco deles. Saiba que, com o passar do tempo, é mais provável…
1 – Ter-se em boa conta
Segundo um mega estudo realizado no Japão com perto de 16 mil homens e mulheres agrupados em cinco categorias etárias (entre os 10 e os 60 anos), a auto-estima tende a ser ligeiramente mais elevada no sexo masculino, mas essa diferença esbate-se depois dos 30 anos. Não é surpreendente que, para ambos os sexos, a adolescência seja aquele período da vida em que se questiona a identidade e que gostar de si seja um desafio que só é superado a partir dos 40 anos.
2 – Confiar no seu próprio GPS
O fantasma da perda de faculdades, desde a memória às funções executivas, atormenta qualquer adulto assim que entra “naquela idade”, ou seja, quando ingressa nos “entas”. Num instante, passa-se “de jota a cota” e chega a ser automática a associação entre envelhecimento (amadurecimento seria o termo mais acertado) e doença ou incapacidade. Espera-se que os olhos peçam óculos, que a condução falhe ou envergonhe os mais novos. Sejamos realistas: mesmo que o tempo de reação seja um pouco mais lento do que, digamos, aos 20, as decisões tendem a ser mais ponderadas e as ações mais consequentes.
3 – Aprender e aperfeiçoar
Há cada vez mais adultos a aprenderem coisas novas, melhorando a flexibilidade física e pondo em prática a neuroplasticidade mental. Os estereótipos é que parecem ser o único fator incapacitante a influenciar negativamente a perceção e a conduta dos que andam por cá há mais tempo. E embora existam períodos críticos para a aprendizagem, sobretudo na primeira infância, na puberdade e no início da idade adulta, também é certo que as capacidades de análise, de planeamento e de estratégia saem beneficiadas com o treino e a experiência, especialmente se exercitadas com regularidade.
4 – Relativizar e ser feliz por si
Aprendemos com os erros (e as experiências negativas associadas). Também aqui, a longevidade pode trazer consigo a vantagem de nos dessensibilizar face a essas experiências de aprendizagem e a ter aquilo que se designa por segurança aprendida. Resultado: o que corre bem começa a ganhar mais importância do que o que corre menos bem, ou o que corre mal. Relativiza-se. Os estudos sobre felicidade sugerem que a década entre os 40 e os 50 anos é determinante, pois é quando se opera a mudança de paradigma. O fenómeno, que ganha a forma de curva em “U”, é explicado pelos cientistas da seguinte forma: depois da tempestade – a crise da meia idade, mais os seus conflitos internos e estados depressivos – vem a bonança e, talvez, a bem-aventurança, ou a atitude consciente de “ver o copo meio cheio”, a partir daí.
5 – Arriscar, reinventar, desfrutar
Os mais velhos priorizam o conhecimento e o significado e talvez por isso sejam realmente mais felizes. As inseguranças dissipam-se. Deixa de fazer-se coisas que realmente não se quer ou de que não se gosta, como acontecia na adolescência e no início da idade adulta, em nome da pertença e da aceitação social. Uma pessoa percebe, de forma mais clara, quem é e do que gosta, sem entrar em delírio por causa daquela borbulha ou ficar esmagada (frustrada) pelo pelo princípio da realidade. O valor próprio deixa de medir-se pelo que a sociedade espera (ter uma profissão, autonomia financeira, família, etc). As amizades e partilhas íntimas passam a contar muito, quase tudo, a par do sentido de humor e do prazer das coisas simples.