Todo o pai sabe que há uma, digo, várias alturas no ano letivo em que se recebe uma missiva do seguinte tipo:
Caros Encarregados de Educação,
Gostaríamos de vos advertir para o surto de pediculose com foco na sala dos Elefantezinhos. Agradecíamos que procedessem à respetiva profilaxia ou tratamento, consoante o caso.
Com os melhores cumprimentos,
A Direção
Neste momento imaginamos um grupo de pessoas envergando fatos Hazmat e de máscara na cara a escrever-nos o mail de dentro de uma bolha esterilizada. Dada a linguagem científica, inócua e desprovida de alarme, alguns pais vão ao Google ver “pediculose”, mas a grande maioria pensa “mais uma porcaria qualquer, logo me hão de ligar para casa se for alguma coisa com o meu”. E vão à vida deles.
Gostaria, assim, de propor uma comunicação alternativa, que acorde os pais da letargia e que os faça encarar certos mails com mais seriedade e com a preocupação que se impõe:
Caros todos os que vivem no vosso agregado e que a esta altura já devem estar mais do que infetados,
Vimos por este meio informar-vos que iremos proceder à mudança do nome da sala dos Elefantezinhos para os Piolhosozinhos, dada a semelhante carga de piolhos que pulula nas cabecinhas dos seus ocupantes, que nem as auxiliares e a tartaruga de estimação escaparam. Dali, a carrada de bichos passou para todas as outras salas, numa orgia de bicheza que varreu que nem canhão da Nazaré tudo quanto é puto com cabelo (sendo que os carecas albergam alguns dentro do nariz). Se você possui uma criança de cabelo comprido, só conseguirá tratar do caso com uma motosserra e uma pinça daquelas compridas de virar picanha. Se possui uma criança de cabelo intermédio, a boa e velha catana será talvez suficiente para desbravar a fauna que agora habita na cabeça da sua cria. Aconselhamos a virem buscá-los com macacão de mecânico, luvas de proteção e um carro ao qual depois possam pegar fogo. Fogo é bom e amigo nestes casos. Quem vos avisa vosso amigo é: iremos provocar pequenos incêndios controlados na escola a ver se matamos a piolhagem, por isso agradecíamos que os viessem buscar quanto antes, para evitar filhos e/ou netos chamuscados.
Já agora, aos responsáveis pelos badalhocos nos quais nem os piolhos pegam, agradecemos se puderem deixá-los assim mesmo (sem banho e tal), sempre são menos uns quilos com que temos de nos preocupar.
Atentamente,
A equipa de fumigação.
Se acabaram esta crónica sem se coçarem, provavelmente não tomam banho há mais de dois dias. Sim senhora, que belos exemplos vocês me saíram.