O futebol desempenhou, uma vez mais, o papel habitual. Ou seja, enquanto andávamos entretidos com os escândalos na FIFA e o seu farsante supremo, outra gente com outro tipo de poder discutia, na mesma altura, como responder à expansão do extremismo violento. O assunto deu azo a uma reunião especial do Conselho de Segurança da ONU. Foi igualmente tema de fundo da conferência anual de Singapura sobre a instabilidade na Ásia – apenas igualado, em termos de importância, pelas inquietações que a atual política chinesa de expansão nos mares do Pacífico ocidental está a causar. E esteve ainda no centro da agenda dos ministros das finanças do G7, reunidos em Dresden, e dos chefes da diplomacia da coligação internacional que combate o autoproclamado Estado Islâmico (EI), reunidos em Paris.
A preocupação com grupo terrorista resulta das suas recentes vitórias. Contrariamente ao que alguns gostariam que acreditássemos, a verdade é que o EI tem ganhado terreno e adeptos. As últimas ofensivas no Iraque e na Síria mostram a sua vitalidade ameaçadora. E o relatório das Nações Unidas, que serviu de sustentação ao debate no Conselho de Segurança, refere que o número de recrutas, vindos da região e de outras partes do mundo, aumentou significativamente nos últimos meses. No início do ano falava-se de 4 mil. Hoje a estimativa ronda os 25 mil combatentes. Sem contar com os simpatizantes, mais ou menos discretos mas potencialmente perigosos, que na Europa, nas repúblicas autónomas do Cáucaso, nos países árabes e em certos estados da Ásia central e do sudeste constituem uma reserva de energias e de apoios financeiros.
Há concordância quanto a certas linhas genéricas de resposta. Por exemplo, todos sublinham que é preciso reforçar a autoridade da Interpol bem como a troca de informações entre as polícias dos diferentes estados. Espero que isso venha a acontecer, embora saiba que a inclinação tradicional dos serviços nacionais é a de guardar ciosamente o que obtêm. Como também se reconhece o valor da identificação prévia e atempada dos passageiros dos transportes aéreos. Mas só 51 países o fazem, sem esquecer que na UE, a introdução deste sistema tem sido bloqueada pelo Parlamento Europeu. Mais ainda, há entendimento sobre a necessidade de combater a radicalização de certos segmentos das nossas sociedades. Assim será, porém a experiência europeia mostra que é mais fácil dizê-lo do que fazê-lo. A alienação e a deriva extremista de certos jovens que, sendo cidadãos europeus, têm as suas raízes na imigração e na cultura islâmica, fazem parte das grandes inquietações societais do presente, em vários países da UE.
Tudo isto não pode, no entanto, servir como pretexto para que nos esqueçamos que o cerne da solução se encontra no Médio Oriente. Para além de outros aspetos, a Europa e os EUA têm que rever a sua política de alianças e o plano de operações em relação à região. O objetivo capital deve ser o de evitar mais sofrimento humano, sobretudo novos massacres de civis. Assim, do ponto de vista operacional e sem mais demoras, a neutralização dos principais líderes do EI deve constituir a prioridade absoluta. Para isso, é preciso intensificar e coordenar melhor a recolha e análise das informações de inteligência e pôr mais ênfase em operações especiais com militares de elite. Na área da estratégia, a decisão mais complexa tem que ver com o repensar do relacionamento com o regime em Damasco. É urgente e tem que haver coragem para o fazer. Será tarde, mas mais vale tarde…