1. Jogos sem chama – A conceção e construção da tocha olímpica, no meio do estádio, foi uma das melhores ideias da cerimónia de abertura. Mas no primeiro dia de competições foi estranho andar a passear pelo Parque Olímpico e não ver o símbolo maior dos Jogos: a chama acesa, no alto do estádio, como é tradição. Pelos vistos, ainda continua lá no meio do relvado, de acordo com a coreografia pensada por Danny Boyle. Admito que seja complicado transportá-la para o local visível que os organizadores já prometeram. Mas isso não pode ser desculpa. Os Jogos vivem de vários simbolismos. E um dos principais é a sua chama. Que tem que ser visível, de dia e de noite, a brilhar no Parque Olímpico. Sem ela, sinceramente, isto nem parece uns Jogos Olímpicos…
2. Os pontos e a pontaria de João Costa – Com 47 anos e 100 quilos de peso, João Costa pode não ter a aparência física de um atleta olímpico. Mas é dos competidores mais constantes que Portugal tem apresentado nas últimas edições. Em Londres, no sábado, voltou a repetir o 7.º lugar que tinha conquistado em Sydney 2000 (em Atenas 2004 e Pequim 2008 repetiu, em ambas, o 17.º posto), no tiro de pistola a 10 metros. E, tal como nos antípodas, amealhou os primeiros pontos (2) para a delegação portuguesa. Com uma precisão quase matemática.
3. Não há vitórias antecipadas – Esta máxima do desporto parecia esquecida entre o povo que, como lembrou Jacques Rogge na cerimónia de abertura, inventou a maior parte dos desportos modernos. Menos talvez o ciclismo, como se viu pela forma inapelável com que o veterano Alexander Vinokurov ganhou a prova de estrada que, nas contas dos britânicos, era dada como uma espécie de volta de consagração para Mark Cavendish, o tal vencedor antecipado. Bem melhor esteve o português Rui Costa que conseguiu atingir o seu objetivo de terminar entre os 15 primeiros (ficou em 13.º).
4. A aura dos grandes campeões vê-se quando perdem – Pode ser injusto para Ryan Lochte, mas até ele sabe que a vida é mesmo assim: apesar do “banho” de 4 segundos que deu a Phelps na final dos 400 metros estilos, apesar da superioridade demonstrada em toda a prova, apesar da lição de natação, a notícia que saiu da piscina olímpica para todo o mundo não trazia o seu nome no título. A notícia foi: Michael Phelps perdeu, Michael Phelps nem chegou às medalhas, Michael Phelps já não é o que era. Dentro de dias, no entanto, tudo pode ser diferente, quando os dois americanos (que a nadadora Sara Oliveira viu a tomarem o pequeno-almoço juntos na Aldeia Olímpica!) se voltarem a encontrar na final dos 200 metros estilos.
5. Público vibrante Apesar (inexplicavelmente) dos lugares vagos, o ambiente na piscina olímpica foi verdadeiramente espetacular no primeiro dia de finais. E os nadadores recompensaram da melhor maneira os gritos de incentivo que vinham das bancadas: Lochte referiu isso mesmo, ao justificar a forma autoritária com que bateu Phelps e a concorrência. Mas melhor ainda fez a chinesa Shiwen Ye que, também nos 400 estilos, bateu o recorde do mundo. Recordes olímpicos foram batidos pelo chinês Yang Sun, com uma ponta final absolutamente extraordinária nos 400 metros livres, e pela seleção australiana feminina na empolgante estafeta de 4×100 metros.
6. Um português com atitude Pedro Oliveira é um nadador experiente e tem perfeita consciência do atraso que sofre a natação portuguesa face às grandes potências da modalidade. Por isso, ao falar aos jornalistas em vésperas de se estrear em Londres nos 200 metros mariposa (irá também aos 200 metros costas), avisou logo (e bem!) que se conseguir entrar nos 16 primeiros já será uma vitória. Mas o que impressionou foi a sua atitude, a forma como encara a competição. Com tiradas como esta, a propósito da sua ausência no desfile dos atletas na cerimónia de abertura: “Eu encaro os Jogos Olímpicos como uma viagem de negócios. Venho aqui para competir. A diversão e a festa virão depois.” Fora da piscina temos campeão, vamos agora ver lá dentro.
7. Ouro por um milímetro Quando bem filmado e num cenário adequado, as competições de tiro com arco podem ser um espetáculo televisivo memorável. A final masculina por equipas, no sábado, foi um exemplo disso, num emotivo despique entre a Itália e os Estados Unidos. De tal forma que o ouro se decidiu no último tiro, da derradeira série de três. Para ganharem, o último italiano tinha que acertar no 10, no centro do alvo. Caso acertasse no oito, a vitória seria automaticamente dos EUA. Deu 10, mas apenas por um milímetro, com a seta a cair quase em cima da linha. Inesquecível.