No dia 27 de novembro, à tarde, em Paris, 167 membros do Bureau Internacional de Exposições (BIE), incluindo Portugal, votarão no país que receberá a Exposição Universal de 2020. Concorrem o Brasil (São Paulo), Emirados Árabes Unidos (Dubai), Rússia (Ecaterimburgo) e Turquia (Izmir).
Sendo um evento que movimenta mais pessoas e recursos económicos do que os Jogos Olímpicos ou o Campeonato do Mundo de Futebol, os países têm investido forte, ao longo dos últimos três anos, nas suas candidaturas. Se for escolhido, o Brasil será das poucas nações na história a organizar os três maiores eventos mundiais em menos de uma década. Mas para que serve uma expo? Desde a primeira, em Londres, em 1851, as expos são indústrias de promoção do país anfitrião e dos países participantes, verdadeiros laboratórios de hegemonização de identidades e de poder. O historiador sueco Anders Ekström demonstrou que a participação de seu país nas expos no século XIX serviu para fortalecer a imagem da Suécia como potência industrial, enquanto a professora de cultura Alexia Kosmider descreveu como o Governo americano usou as expos para mostrar a liderança mundial dos EUA. De forma mais ou menos voluntária, as expos ainda bebem nestas fontes. Xangai 2010 foi organizada para exibir perante o mundo o desenvolvimento económico da China. Turquia, Rússia e Emirados Árabes querem usar a Expo 2020 para se enaltecerem e agigantarem, aos olhos do planeta.
Mas, como já escrevi nesta revista, este é um conceito obsoleto. Quem ainda acredita nestes espetáculos impressionistas e monumentais? Ao longo dos últimos dois anos, participei na maioria das reuniões de apresentação e preparação da candidatura paulista.
E ficou claro que o estilo e os objetivos são diferenciados.
O Brasil nunca oferecerá festas homéricas de apresentação, na Ópera de Paris, como fez o Dubai (até porque tem Tribunal de Contas), a sua Presidente nunca afirmará que a Expo 2020 será um evento “maciço que contará com recursos financeiros sem limites” (como disse Vladimir Putine, em junho), as suas apresentações nunca serão militarmente preparadas por consultores de marketing e nunca fará negociatas para garantir o voto dos países pobres e o apoio de celebridades mundiais. Mas, mais importante do que tudo, a Expo 2020, no Brasil, inaugurará um novo tipo de exposições.
Como disse Nicolau Sevcenko, professor de Harvard, numa apresentação aos membros do BIE, a Expo 2020 terá que se humanizar. O objetivo não será atingir a torre mais alta ou apresentar o invento mais engenhoso, mas garantir que a Humanidade se possa debater e reinventar.
A Expo 2020 não poderá ser um festival de narcisismos nacionalistas, mas terá de questionar a forma como nos governamos.
Em 2020, estaremos mais perto da “singularidade tecnológica”, alguns países terão uma esperança média de vida próxima dos 100 anos e o Estado-Nação estará condenado à morte.
As expos servirão, por isso, para nos oferecerem novas referências. Atrairão os grandes pensadores e fazedores mundiais. Serão a Eclésia dos tempos modernos.
“Força da Diversidade, Harmonia para o Crescimento” talvez seja o slogan que nos guiará, nas próximas décadas. E, coincidentemente, também é o lema da Expo São Paulo.
* Chefe da Assessoria Especial para Assuntos Internacionais do Governo do Estado de São Paulo