Paulo Portas fez bem? Ou fez mal? É bom para ele? E para o CDS/PP e para o país?
A discussão sobre a saída do presidente do CDS/PP tem sido quase sempre centrada na discussão sobre a eficácia da decisão, muito mais do que sobre o valor da dita. É o costume na política portuguesa: debater o tacticismo, esquecer a substância.
Portas avisa que vai sair quando os seus apoiantes mais dele precisavam. É um lugar comum dizer-se que é nos momentos difíceis que os grandes líderes fazem falta. Ora ninguém enjeitará que este é um momento complicado para o CDS/PP, agora que volta a ser um partido parlamentar com menos um deputado do que o Bloco de Esquerda e apenas mais um do que a CDU. O CDS/PP volta, assim, a ter de percorrer um caminho, que poderá ser longo (a extensão do percurso depende mais do PS, do BE e do PCP) sem que a passagem pelo governo tenha servido para o firmar parceiro essencial, fiel e do coração do PSD.
Portas sai (é mais seguro escrever “anuncia a saída”), não penalizando-se por ter contribuído para afastar o CDS/PP do poder, como efetivamente aconteceu, mas dizendo-se cansado, assumindo o papel de vítima, esgotado por 16 anos de liderança. Não foi derrotado, ele é que quer mudar de vida. E é verdade, se não quisesse sair ninguém lhe tirava o lugar.
Paulo Portas é assim. Tem um lugar muito especial na política portuguesa. Como outros (quem apontava o dedo a Soares? quem contesta a boa imprensa de António Costa (sobretudo se comparado com Seguro ou Passos)? quem entende hoje como Cavaco Silva conseguiu por quatro vezes recolher mais de metade dos votos entrados nas urnas?), foi sempre avaliado pela eficácia da sua manobra política.
E nesse domínio sempre mostrou grande habilidade. Desde que apoiou a eleição de Helena Roseta à Câmara Municipal de Cascais, no início da década de 80, no “Independente”, nos períodos de liderança e de oposição no CDS, quando esteve em governos e fora dele, sempre mostrou uma agilidade ímpar. A teatralização dos seus discursos, o falso à vontade com que punha a boina nas feiras, a pouca convicção que se lhe notava quando pretendia fazer discursos de estadista, a tranquilidade e impunidade com que revogava coisas irrevogáveis e “recomenda” um candidato que “é filho do diabo” e dele “recebeu a maldade” – tudo contou a seu favor.
Tal como Marcelo formatou a análise política em Portugal, o seu ex-grande parceiro Paulo Portas fez escola no CDS/PP. Deixa vários sucessores e pode gabar-se de ser, aliás, o líder do partido que, neste momento, mais delfins tem prontos para a sucessão. Não são clones, para o bem e para o mal; terão até, nalguns casos, estilos bem diferentes. Mas são uma geração (excecionando Telmo Correia) a quem o líder-que-anunciou-a-saída (receio escrever vai sair…) deu protagonismo.
Portas fez, há dias, 53 anos. Não vai ser advogado o resto da vida. Nem jornalista. Com este Governo dificilmente (ou talvez não…) será nomeado para um posto diplomático. Mais prognósticos, só lá mais para frente. Apenas um: a política vai ser diferente. Esperemos que mais fiável.