Ao noticiarem a demolição, os media referiram-se ao edifício em causa como tendo sido a sede do grupo de teatro Os Modestos. O que é verdade. Mas somente a partir dos começos do século XX.
Em 1906, o edifício estava abandonado e foi nesse ano que Os Modestos o ocuparam, fizeram dele a sua sede e o transformaram, diga-se em abono da verdade, numa bela casa de espetáculos. Quanto às Classes Laboriosas, nem uma palavra. O que não deixa de ser preocupante, por revelar que a memória histórica desta cidade está mesmo a desaparecer.
Não foi por acaso que os homens das Classes Laboriosas construíram a sua primeira sede naquele local. Porque era ali, no largo fronteiro, antigo largo do Bonjardim, hoje de Tito Fontes, que os operários dos finais do século XIX organizavam os seus comício, para protestar contra as prepotências do patronato; para reivindicar mais justos salários e melhores condições de trabalho; enfim, fazer ouvir a sua voz. Aquele era, ao tempo, o espaço do centro da cidade onde cabia mais gente.
Os primeiros passos do movimento operário portuense foram dados ali, à sombra, se assim se pode dizer, da sede da Associação das Classes Laboriosas. E eram os tipógrafos que, por via de regra, se colocavam sempre à frente dessas jornadas reivindicativas. O que se compreende, porque, como escreveu José Pacheco Pereira, num interessante estudo sobre “As origens do movimento operário do Porto”, publicado na “Análise Social“ (volume XVII) de 1981, “o facto de (os tipógrafos) saberem ler e de terem acesso direto à cultura e à vida política da época, tornava-os recetivos às ideias associativas que acompanhavam o progressismo social novecentista…”
Quando o velho largo do Bonjardim começou a ser urbanizado, e o espaço para concentrações públicas ficou mais reduzido, os operários procuraram outro local para as suas assembleias reivindicativas e encontraram-no para os lados das Antas no lugar hoje conhecido por Monte Aventino.
É do conhecimento geral que, na mitologia clássica, Aventino era um filho de Hércules. Foi também o nome de uma cidade italiana (a Voguenza dos nossos dias) que ficava junto ao rio Pó. E era a denominação de uma das sete colinas de Roma até onde subiam os romanos quando queriam fazer protestos ou reivindicações. Foi pois em analogia com o nome desta colina de Roma que os portuenses passaram a chamar Monte Aventino ao sítio do Porto onde as Classes Obreiras dos meados do século XIX se reuniam para fazer as suas reivindicações.
Ainda hoje encontramos no Monte Aventino portuense fartos vestígios dos tempos passados materializados em abundantes habitações operários e nos nomes de algumas artérias: rua da Colónia de Antero de Quental; rua do Bairro de “O Comércio do Porto”; ruas de Francisco Carqueja, Manuel Carqueja e Dr. Henrique de Miranda, nomes intimamente ligados aquele jornal que foi um grande patrocinador da construção de bairros para operários no Porto.