A história é por demais conhecida: D. Afonso IV, estribado em “razões de Estado” (seja lá isso o que for) condescendeu, para usar um termo benévolo, perante os seus conselheiros, no assassínio da Inês de Castro que, “em sossego”, vivia junto a Coimbra, nas margens do Mondego. Como também é sabido, porque é da história, Inês era a amante do príncipe herdeiro D. Pedro que por causa da sua trágica morte, em 1335, se revoltou contra o pai provocando uma encarniçada guerra civil que só viria a acabar, vinte anos depois (1355), com a assinatura do tratado de Canavezes.
Por aqueles tempos andada a ser construída, ao redor do Porto, a muralha gótica cujas obras haviam começado com D. Afonso IV mas só terminariam no reinado de D. Fernando e que, por esse motivo, passaram a ser denominadas de “fernandinas“. Em 1335, quando D. Pedro se revoltou contra o pai, as obras da construção da muralha ainda nem a meio iam. Entretanto, D. Afonso IV soube que o filho se preparava para ocupar o Porto e para obstar a esse objetivo incumbiu o arcebispo de Braga, D. Gonçalo Pereira, de defender a cidade.
A guarnição militar do Porto daquele tempo era pequena e estava mal preparada para um embate com as tropas rebeldes de D. Pedro. Foi então que o arcebispo teve uma ideia que, segundo alguns dos seus biógrafos, não lhe granjeou honras, como militar, mas que o revelou como “pessoa muito astuta e manhosa”. A ideia foi a seguinte: D. Gonçalo Pereira ordenou aos seus mais próximos colaboradores que fossem junto dos navios que estavam surtos nas águas do rio Douro, e eram muitos, que lhes arrancassem as velas dos mastros e as levassem até junto dele. Depois mandou pintar os panos de forma a parecerem pedras e colocou-os em torno da parte da cidade por onde era suposto que D. Pedro iria tentar entrar. O estratagema resultou. Ainda a grande distância o filho de D. Afonso IV julgou ver uma muralha de pedra verdadeira e que lhe pareceu inexpugnável pelo que deu meia volta e retrocedeu.
O estratagema do arcebispo resultara.