Bem sei que estamos em mês estival, época de esquecer problemas e ir a banhos. Bem sei que falar de banca não é a coisa mais entusiasmante do mundo para quem quer distrair a cabeça. Mas, infelizmente, a realidade tem muita força. Deixem-me ser clara: se a economia global fosse uma loja de porcelanas, a banca europeia seria um enorme elefante dentro da sala.
A coisa está feia. Não, não me venham com os surpreendentes bons resultados dos testes de stresse (esses estudos que analisam a resiliência dos 51 maiores bancos europeus a eventuais choques económicos), divulgados na passada sexta-feira. Tudo está calmo, só o italiano Monte dei Paschi di Siena está abaixo dos mínimos exigidos, atiram os otimistas.
É que estes testes de stresse deixam-me um bocadinho stressada: como é possível que nas 46 páginas de conclusões não se refira uma única vez a expressão “taxas de juro negativas”, se são elas o fator que mais tem pesado para a má performance do setor bancário no último ano, como bem notou o Financial Times? Há cada vez mais vozes (veja aqui artigo do Economist, aqui outro do Financial Times e aqui entrevista da Bloomberg) a fazer notar o facto de estes testes falharem uma série de parâmetros importantes para o desempenho do setor.
Os sinais de alarme estão um pouco por todo o lado e o principal fala alemão: ainda esta semana foi anunciado que o Deutsche Bank será retirado do índice EuroStoxx 50 (que reúne as 50 maiores empresas europeias), a primeira vez que fica ausente desde 1998 – as suas ações estão quase 90% abaixo dos picos de 2007. A penalizar o banco estão as tais taxas de juro a níveis historicamente baixos, mas também a pressão regulatória que obriga a simplificar e tornar mais transparente o negócio (o que reduz drasticamente as margens de lucro), custos elevados, despesas de litigância, multas e, claro, agora também o BREXIT.
O novo CEO do Deutsche bank, John Cryan, está a tentar meter ordem na casa, mas a tarefa é complicada. No final de junho o FMI veio dizer que o banco “parece ser o mais importante contribuinte líquido para o risco sistémico” do setor. Mas o que é verdadeiramente assustador é que este é um gigante demasiado grande para ser salvo: para se ter uma ideia da dimensão que estamos a falar, só a exposição do banco a derivados é várias vezes superior a todo o PIB alemão.
Um abanão neste banco e toda a banca europeia vai potencialmente atrás. Por cá, o cenário está longe de ser famoso, como se sabe. O Novo Banco apresentou prejuízos significativos e surgiu um interessado no BCP, aparentemente pouco credível aos olhos do mercado.
Como nos podemos proteger de eventuais terramotos na banca, eis a questão. Não há muito a fazer, na verdade, a não ser usar e abusar da mais velha e sensata regra de investimento: não meter todos os ovos no mesmo cesto. E optar por soluções conservadoras. Ser avesso ao risco é, por estes dias incertos, uma atitude de extrema inteligência.