Dizem que o segredo para conseguir cumprir uma resolução de novo ano está na escolha. Por isso, em vez de continuarmos a insistir naquelas ideias que passamos a vida a adiar ou que nos tiram o sono, devemos, isso sim, dizem, escolher uma que sabemos que nos irá dar satisfação. Ou seja, algo que, por si só, nos possa inspirar, ganhar força de vontade, fazer correr atrás de um objetivo, não porque seja importante, mas simplesmente porque nos dá prazer. Não possuo forma de comprovar essa teoria, mas como método parece-me, porventura, o melhor para encarar o 2017 que se aproxima já que quase tudo o que pressentimos que pode ocorrer nos próximos 12 meses saltita entre o inacreditável e aquilo que desejávamos que fosse impossível.
O mundo, como começámos relutantemente a perceber em 2016, prepara-se para entrar numa nova era em 2017. Os sinais não enganam: os Estados Unidos, de Trump, estão prestes a mudar as regras da sua relação com o resto do planeta (e porventura até o próprio jogo); a União Europeia enfrenta um dos maiores desafios da sua existência; a China, de Xi Jinping, começa a ensaiar uma nova forma de ganhar influência no mundo; a Rússia de Putin volta a ter sonhos imperiais, assente numa política de confronto. Ainda por cima, tudo isto ocorre e desenvolve-se num clima tumultuoso marcado por ataques terroristas, guerras selvagens, ressurgimento da xenofobia e do racismo, falência dos modelos democráticos tradicionais, banalização da mentira, alteração nos sistemas de produção, aumento da intolerância, transformação global do mercado de trabalho, o advento de uma nova revolução tecnológica baseada na inteligência artificial e mais uma série de outros fenómenos que abalam muitos dos alicerces em cima dos quais fomos construindo as nossas vidas em comum.
Nas últimas décadas, habituámo-nos a olhar para o mundo com a ordem que tinha sido ditada pelos vencedores da II Guerra Mundial. Concordássemos ou não com ela, sabíamos que era assim que o mundo estava organizado, com blocos mais ou menos definidos e um equilíbrio sustentado numa série de organizações internacionais que permitiam manter uma determinada estabilidade, que interessava a todos. Agora tudo começa a ficar diferente. “O mundo está um caos”, diz mesmo o veterano Henry Kissinger, ao olhar para a forma como se está a desmoronar o edifício que ele, entre outros, ajudou a criar, à frente da diplomacia americana em alguns dos anos mais duros da guerra fria.
Em 2017, tudo o indica, uma nova ordem deve começar a ser erguida. Pela primeira vez na história da humanidade, com um maior envolvimento global. E, vale a pena acreditar nisso, com maior informação e escrutínio por parte dos cidadãos.
Vamos entrar em terrenos até aqui desconhecidos, nunca antes trilhados. As ameaças são variadas e têm constituído, aliás, a base dos discursos que procuram a mudança através das bandeiras negras da raiva e do medo. Só há uma maneira de iluminar o caminho desconhecido e, necessariamente, tortuoso: com informação rigorosa, independente e clara.
Este 2017 pode ser, assim, o ano de todos os perigos, mas também pode ser o de todas oportunidades. A responsabilidade é nossa enquanto indivíduos e sociedades.
Procurar transformar o medo em esperança, o terror em união, e a opressão em liberdade pode ser, admito, uma resolução de novo ano para ir diretamente para a categoria das coisas impossíveis. Mas seria a escolha certa. E, seguramente, a que traria maior satisfação.
A todos.