Esta é uma das queixas que mais ouço: “Ele/ela é amargo/a comigo”.
Muito para além do conteúdo da mensagem, a forma como é expressa, pode ser brilhante ou, simplesmente, um “desastre” e estragar tudo! Minar uma relação no seu começo, ou destruir um relacionamento já longo.
Sabia que o seu tom de voz, expressão facial, olhar, gestos, postura e a forma como acentua as palavras e as diz, são decisivos na forma como o outro interpreta o que acabou de dizer?
Claro que quando se trata de ofender e magoar, independentemente da forma como a mensagem é expressa, essas palavras fazem doer. Mais, ainda, se são ditas de forma sarcástica, desprezível, com indiferença ou inquestionável violência.
Mas a amargura, também magoa e fere!
Este artigo é sobre pessoas que não conseguem, por mais que os seus companheiros lhes peçam, ser mais doces. Dizer, docemente, o que têm para dizer. Pessoas cujas palavras são ácidas, e cuja acidez penetra na alma de quem as ouve, fazendo-as sentir culpa pela sua amargura, sem perceberem porque elas não conseguem ser diferentes.
Pessoas que não conseguem ser mais doces na expressão das suas emoções, da sua vontade, dos seus desejos, dos seus pensamentos, no falar, no olhar, no sentir a dor do outro, no colocar-se no seu lugar e sentir o que o outro está a sentir, em razão da sua, por vezes, “aprendida” e defensiva falta de doçura.
E esta falta de doçura e defesa, pode ser aferida logo num primeiro encontro, na conquista, no trato, na escuta, na expressividade das suas emoções ou na sua falta, na comunicação, na atenção, na escuta do outro, na aproximação, na intimidade, na aceitação do outro, das diferenças, na partilha, na relação.
A amargura também pode estar lá no início de qualquer relação, ainda que velada, como todos os outros sinais que enviamos para Marte, em razão da paixão que tanto queremos viver.
Todos sabemos que o Amor é doce, mas todos tendemos a conformarmo-nos e aceitarmos amores agridoces, senão deveras amargos.
Quando quem diz que o ama, fala repetida e constantemente de forma “ácida” consigo, isso não é Amor, nem aqui nem em qualquer parte do mundo. Querem fazê-la/o acreditar que é, mas é você quem decide aceitar, ou não, essa estranha “fórmula ácida” de se relacionar.
Com os milhares de livros de nutrição e de dietas que se circulam na comunicação social e redes virtuais, que postulam a abstinência de açúcar, será que muitas pessoas estão também a ficar alérgicas a tudo o que seja doce, não só a bolos, mas igualmente a palavras e expressões que revelem doçura, no sentido de evitarem pronunciá-las ou manifestarem a sua aversão/fuga quanto as ouvem ou leem?
E pergunto: Passou a ser uma vergonha, conotado como fraqueza ou um ato impróprio ser doce com quem se gosta e querer ser tratado com doçura?
É que muito para além de existirem pessoas neste Mundo que definitivamente não têm essa mesma capacidade, como não tem a capacidade de amar alguém, nem mesmo a elas próprias, creio que a falta de doçura na conjugalidade é um dos problemas cada vez mais na ordem do dia.
Será que a doçura de gestos, expressões faciais ternurentas e verbalização afetuosa, são conciliáveis com a sociedade de consumo imediato e descartabilidade, com a pressão, com o stress e com a imagem?
E com as exigências de estar sempre à altura, de não errar, de ser perfeito, com ser o/a melhor companheiro/a e ter o melhor corpo, um status financeiro e social atraente, uma profissão invejável, uma casa grande com muitas coisas e um carro “xpto”, embora tudo isto se possa traduzir em milhões de preocupações e em noites mal dormidas?
Será que tudo isto não arrasa também a sua capacidade e a do seu companheiro de serem doces no falar e no estar?
Há quanto tempo não se reencontra com a sua capacidade de ser doce e com a do seu companheiro?
Acompanhando casais apercebo-me cada vez mais que a falta de doçura nas relações não tem só, e apenas, a ver com as características de personalidade dos envolvidos e/ou com as suas experiências de vida, com os seus desgostos amorosos, os filhos ou os problemas com as famílias de origem.
A falta de doçura também tem a ver com as pessoas se sentirem fartas e zangadas com os outros, mas especialmente com elas próprias. Tem a ver também, com a sua própria insatisfação, frustração, carência afetiva, desespero, desamparo, por não terem o emprego e o dinheiro que queriam ter, por o/a companheiro/a não ser quem pensavam, por não terem os bens que queriam ter, por as dividas se acumularem, por não terem a relação que imaginavam ter, o/a “amante” que um dia sonharam ter.
Mais uma vez “os ideais” que fazem com que se olhe para o que se tem e se veja “nada”! E quem consegue ser doce quando o foco é o “nada” ou “quase nada”?
A falta de doçura também tem a ver com a comparação constante com aquilo que se passa no quintal do vizinho, na casa do vizinho, com a profissão do vizinho, com a mulher/marido do vizinho, ou com aquela outra/outro da telenovela ou dos anúncios publicitários.
A falta de doçura também tem a sua origem na idealização do outro e da relação, e no estar na relação com um pé dentro e outro fora, ou com os dois fora, à espera de encontrar o senhor melhor ou a senhora melhor, e a pensar que aquilo mais dia menos dia acaba, ou pior, que mesmo que ainda nem tenha começado, vai ser como tantas outras curtas, frustrantes e amargas relações, o que faz surgir a pergunta: “porque vou investir e gastar a minha doçura com quem ainda não parece ser a tal, a certa, a alma, a metade da laranja, que deve estar ai a chegar?”
A falta de doçura também pode estar relacionada com dar a relação por adquirida e o outro como conquistado, com perda de interesse, com o desgaste das relações, mas especialmente com a perda da admiração e do respeito pelo outro. E sem admiração e respeito não existe Amor.
Sabe o que a passagem do tempo pode trazer, para além da possibilidade quase certa de se vir a tornar cada vez mais amargo, porque amargura só atrai ainda mais amargura, ou de ser vítima de uma amargura ainda maior?
Chegar ao final da sua vida sem conhecer o verdadeiro Amor. Por si, e dos outros por si!
O tempo não para, sabia? A vida é um sopro e temos tão pouco tempo para ser doces com quem gosta de nós! E também para receber doçura!
Porque não o aproveita?
Parece-lhe que ainda tem muito tempo para ser amargo? Está enganado! Quando lhe restarem apenas memórias são os momentos de doce ternura que vai recordar. Quem gosta de recordar a sua própria amargura e a dos outros? Talvez os masoquistas!
Sabe o que acontece quando aceitamos repetidamente ser tratados com amargura?
Quando permitirmos que assim nos tratem, pensando que não merecemos mais?
Quando não dizemos: “Basta! Eu quero ser tratada/o como sei que mereço, com doçura!”
Sabe o que acontece?
Enquanto você vai acreditando que essa é uma realidade inatingível, que será impossível essa mesma pessoa falar consigo de uma outra forma, que ela jamais será doce, e que a sua cruz é aguentar a sua amargura, ou falta de doçura, essa pessoa não lhe vai reconhecer o direito de ser tratada/do de outra forma e vai continuar a falar consigo como sempre falou, a olhar para si, como sempre olhou, a não respeitar as suas necessidades que sempre desrespeitou, a tratá-la/lo como ela pensa que quer ser tratada/o, a dar-lhe aquilo que acredita que você quer e vive bem com isso, porque ainda não percebeu que não o pode fazer.
Quer ser conquistada/o com doçura? Explique-o!
Quer ser tratada/o com doçura? Dê-o a conhecer!
Quer ser amada/o com doçura? Expresse-o com firmeza!
Quer que conversem consigo com doçura? Verbalize-o e não aceite menos!
Quer viver uma relação com doçura?
Escolha um/uma companheiro/a que saiba ser doce e que queira aprender a ser ainda mais, e quando ele/ela a ferir com a sua amargura, não deixe passar, não finja, não negue, simplesmente diga: “Mais doce, por favor!”
Se já o disse um milhão de vezes, e parece-lhe que ele/ela está com alguma dificuldade em perceber o seu pedido, e o que está a sentir, talvez precise de o ouvir de outra pessoa. Recorra a ajuda!
Quer viver a vida com mais doçura?
Seja doce, consigo e com os outros!
www.margaridavieitez.com