Num dia ainda ameno de Setembro, chegou à escola uma simpática menina chamada Flexibela. Mas a menina não vinha só. Trazia com ela uns fiéis amiguinhos que pretendiam promover naquela nova instituição de ensino grandes mudanças, sobretudo o sucesso escolar de todos os meninos que lá se encontravam.
Flexibela era apenas o petit nom que os pais lhe tinham atribuído porque o seu nome completo era muito mais complexo (Projeto de Autonomia e de Flexibilidade Curricular). A menina entrou na escola acompanhada da Articulação (de apelido Vertical), da Aprendizagem (cujo apelido é Essencial), da Planificação e de vários meninos todos eles de nome próprio, Critério, só mudava o apelido (Critério Português, Critério Biologia, Critério Geografia, etc.).
O objetivo de Flexibela e dos seus amigos era alargar o sucesso escolar a toda a escola e fazer com que nenhum menino ou menina a abandonasse antes de tempo. Assim, decidiram começar a criar jogos de associações a problemas do quotidiano; promoveram atividades em que as meninas e os meninos cooperavam entre si, faziam jogos de escolhas, confrontavam as diferentes opiniões e resolviam todos os problemas que lhes iam aparecendo. Flexibela e os amigos estavam convencidos de que só eles é que sabiam as regras destes novos jogos. Diziam mesmo a quem os ouvisse que os outros jogos que na escola se jogavam antes deles lá terem chegado não favoreciam nem o sucesso nem a inclusão de todos os meninos e meninas.
Mas Flexibela esqueceu-se que nessa escola, muito tempo antes dela lá chegar, tinha havido e continuava a haver muitas outras Flexibelas, cuja luta diária foi e continua a ser exatamente a mesma.
O Projeto de Autonomia e de Flexiblidade Curricular pretende promover o sucesso escolar e a flexibilidade curricular. Para tal, propõe uma articulação entre o perfil do aluno e as aprendizagens essenciais que este deve fazer (conhecimentos, capacidades e atitudes). No seu art.º 4, ponto 1, pode ler-se: (…) o reconhecimento dos professores enquanto agentes principais do desenvolvimento do currículo, com um papel fundamental na sua avaliação, na reflexão sobre as opções a tomar, na sua exequibilidade e adequação aos conteúdos de cada comunidade escolar.
Afinal, flexibilidade curricular e sucesso escolar são as bandeiras que qualquer professor competente e responsável ergue bem alto. Não há, que eu conheça, muitas outras classes profissionais mais capazes e habituadas a flexibilizar do que os docentes. Não há, neste decreto-lei nada de novo para os bons professores. Estes sabem, desde a sua profissionalização, a necessidade de compromisso com uma escola inclusiva, essa escola em que todos os alunos têm a oportunidade de realizar aprendizagens significativas e na qual todos são respeitados e valorizados. Os professores lutaram sempre por uma escola que corrige assimetrias que a sociedade e a vida fora da escola insistem em acentuar. Os professores passam os seus dias, nas aulas e fora delas, a desenvolver ao máximo o potencial dos seus alunos.
O problema não são os professores. O problema reside nas políticas educativas que mudam consoante as cores do parlamento e, sobretudo, na ausência total de respeito pela profissão docente que este e outros governos anteriormente têm demonstrado.
O Decreto-Lei 55/2018 de 6 de Julho parte, a meu ver, do princípio de que os professores de Portugal são todos maltratados do miolo.