Mudar de emprego depois dos quarenta anos continua a ser uma decisão que acarreta muitas dúvidas à maioria dos profissionais. Na verdade, trata-se de um receio infundado, até porque, aos quarenta anos ainda nem se chegou a metade da carreira profissional. Exactamente! A idade da reforma só chegará, pelo menos, vinte e seis anos depois.
Após quinze ou vinte anos de carreira já se tem uma experiência profissional consolidada o que permite evitar cometer os erros que se cometeram com cinco ou seis. É nesta fase da vida que se está próximo de exponenciar o conhecimento, desde que este se faça acompanhar por uma boa dose de ambição, drive e vontade de fazer acontecer. A atitude positiva, confiante, enérgica é, indubitavelmente, o trigger do sucesso, seja aos vinte, aos trinta aos quarenta ou aos setenta anos de idade.
Além disso, as pessoas têm hoje, genericamente, melhores condições de vida que lhes permite prolongar a sua saúde física e mental. Não é por acaso que se diz que os quarenta são os antigos trinta. A componente física (forma) associada à tal atitude positiva e ao conhecimento adquirido (conteúdo) eleva os patamares de pensamento e execução.
Os mitos e preconceitos
• “Sou demasiado velho para me recrutarem”
A ideia de que depois dos quarenta já dificilmente se é recrutado vem do receio de ser visto como “velho” ou desinteressante. Há, no entanto, que fazer uma distinção entre os que já atingiram lugares de topo e os que estão ainda ao nível de gestores intermédios ou são trabalhadores com funções mais indiferenciadas. Em relação aos gestores de topo é fácil: quem já atingiu este patamar aos quarenta anos está muito bem e a dificuldade será manter-se no topo. As dúvidas e mitos existem sobretudo ao nível das chefias intermédias e outras. É nestas categorias profissionais que as empresas têm tendência em equacionar se faz sentido manter uma pessoa com vinte ou trinta anos de experiência ou recrutar um jovem com dois ou três. As boas práticas indicam que a diversidade nas equipas deve existir, mas o fundamental é valorizar as competências que são necessárias para o bom desempenho da função e não a idade. Esse é o preconceito que tem de ser combatido. Um indivíduo não deve ser excluído de um processo de recrutamento pela idade, mas sim por não ter a experiência ou o comportamento desejado.
Mais uma vez é uma questão de Atitude! Atitude! Atitude!
Há pessoas que têm como objectivo um emprego estável e que evitam a mudança, a todos os níveis. O que não está errado, simplesmente têm de estar atentas ao contexto, e este diz-nos que a mudança hoje é frenética e, por isso, enterrar a cabeça na areia à espera que chegue a idade da reforma poderá ser prejudicial.
• “Dizem que sou muito caro”
Este é outro mito, pois a experiência de vinte anos de carreira ajuda a que se evitem erros, poupando assim muito tempo e dinheiro ao empregador. Logo, as empresas têm de ter em atenção o nível de produtividade e não a idade. Recrutar 2 juniores pelo preço de um sénior não significa que consigam ter o mesmo nível de produtividade que o sénior.
• “Consideram que tenho menos disponibilidade”
Mais uma vez, o que conta não é a idade, mas sim a capacidade para honrar compromissos e assumir responsabilidades. Não se pretendem profissionais para passarem longas horas nos escritórios, mas sim para cumprirem objectivos definidos. Aliás, existe hoje uma geração – a millennial – que procura um maior equilíbrio entre a vida pessoal e o trabalho, atitude essa que tem contagiado outras gerações.
• “É demasiado tarde para mudar de carreira”
Falso! Após ter desenvolvido várias competências, skills e network poderá colocar isso tudo ao serviço de uma empresa que actue noutra área de negócio, ou ainda decidir iniciar a sua própria empresa. São cada vez mais frequentes as pessoas com duas, três ou quatro carreiras ao longo da vida. O segredo para que se tenha sucesso nestas mudanças é saber avaliar as suas próprias competências e verificar onde as mesmas podem ser valorizadas e mesmo potenciadas.
Empreendedor aos 40
São muitos os exemplos de pessoas que decidiram iniciar o seu negócio após os quarenta anos e que têm vontade, energia e know-how suficientes para fazer crescer empresas. Mais uma vez, a idade é apenas um número. Há jovens que aos trinta anos revelam já uma atitude que os faz parecer próximos da reforma. Pelo contrário, há outros que, após os quarenta e cinquenta lançam negócios, projectam empresas no mundo e iniciam doutoramentos em áreas completamente diferentes da sua experiência profissional.
O empreendorismo, tão na moda, é uma outra forma de mudar de vida e efectuar a tão desejada mudança profissional. Obviamente, o risco associado é muito maior, mas também o conhecimento acumulado é uma óptima base para conseguir diluir esse mesmo risco.
De acordo com a Fundação Kauffman, três quartos de todos os novos empreendedores em 2014, nos EUA, tinham idades compreendidas entre os 35 e os 64 anos, sendo que a maioria tem mais de 45 anos. Eis alguns exemplos que podem servir de inspiração:
- Sam Walton, fundou a WalMart aos 44 anos. Antes possuía um pequeno supermercado com seu sogro.
- Vera Wang foi uma conhecida patinadora e jornalista antes de entrar na indústria da moda aos 40 anos. Hoje, é uma das principais designers de roupa de mulher em todo o mundo.
- Thomas Siebel foi co-fundador da Siebel Systems com 41 anos. Antes, tinha passado na Oracle e já tinha ganho dinheiro quando foi CEO da Gain Technology.
- Ray Kroc fundou a McDonald’s com 52 anos. Até lá era um vendedor de máquinas de milk-shake.
Esta capacidade de inovação e realização termina com outro mito que as pessoas após uma determinada fase têm menor capacidade de aprendizagem, inovação e mesmo de realização.
As vantagens dos 40:
Em seguida, algumas das vantagens que os profissionais com mais de vinte anos de experiência (tipicamente nos seus quarenta anos) podem oferecer às empresas:
- Background educacional;
- Comprometidos em fazer um trabalho de qualidade;
- Trazem paciência, experiência, maturidade e estabilidade às equipas;
- Experiência;
- Um óptimo network;
- Muitos são bons mentores;
- São mais saudáveis que gerações anteriores;
- Taxas de rotatividade e abstencionismo mais baixas;
- Não estão a trabalhar para simplesmente ganhar experiência profissional e depois mudar de emprego.
A idade não deve ser tema na fase de recrutamento, nem deve servir de limitação quando se quer mudar de vida. O importante, quer a nível profissional quer pessoal, é a atitude que, quanto mais positiva, confiante e enérgica for, maior será a probabilidade de alcançar o sucesso.
* (O autor escreveu este texto com base na ortografia antiga)