Já experimentou a aplicação Prisma? O poder de criar que fica nas nossas mãos é tal que há quem tenha vergonha de retirar o selo, facultativo, que o programa coloca sobre cada fotografia que trabalhamos. Mesmo que ainda não conheça a Prisma provavelmente já terá usado alguns filtros para melhorar fotografias no smartphone. É impressionante o que uns toques podem fazer para melhorar as nossas amadoríssimas fotografias. Pois a Prisma vai mesmo mais além. A fotografia não é tratada sequer no telemóvel. Usa inteligência artificial de programas demasiado pesados para os nossos aparelhos de bolso. Pega nas nossas simples imagens, compara com imagens que marcam um determinado estilo uma época ou escola de pintura e em segundos devolve-nos o que frequentemente parece uma obra de arte.
Os resultados são verdadeiramente impressionantes com a mais banal das imagens. Como aconteceu no início da moda dos filtros a pouco e pouco começamos quase todos a fazer imagens parecidas. Lá se vai a arte, ou não, porque tal como as tintas e as telas estas aplicações não passam de ferramentas. Se eu pegar em tinta de óleo e num cavalete não faço mais do que um pintor de paredes sem criatividade, aliás faço menos se ele souber do seu ofício. A arte está em usar essas mesmas ferramentas e fazer algo de novo e que sensibilize também os outros. A diferença é que coisas como a Prisma dificilmente nos deixam ficar mal, se tiver um pingo de sentido estético encontra lá o filtro que faz o sucesso por si.
Outra coisa que segue uma caminho talvez ainda mais impressionante e curiosamente não vejo usar muito por cá, pelo menos não tanto como até merece, é o Google Photos. Talvez haja uma razão para isso, quando a esmola é muita o pobre desconfia. Na sua missão de guardar todos os dados do mundo a Google alicia-nos com ferramentas cada vez mais interessantes. Há muitas formas de armazenar as nossas imagens na nuvem, umas pagas e outras gratuitas. Teoricamente se prezamos as imagens que fazem a nossa memória deveríamos ter sempre um ou mais backups em disco. Mas o ideal é mesmo ter um backup fisicamente separado, longe de qualquer coisa que possa acontecer ao local onde usamos o computador. Começou por aí a utilidade de serviços como o Google Photos. Facilidade de backup, hoje é quase demasiado simples, dadas as devidas autorizações não precisamos de fazer rigorosamente nada, a Google guarda-nos as preciosas imagens e pode ir buscá-las sozinha ao telemóvel, ao computador em alguns casos até diretamente à câmara fotográfica. Depois vem a facilidade de partilha. Eu sempre fui um daqueles que tira muitas fotos e depois promete enviar as mais interessantes aos amigos. A verdade é que era um trabalho muitas vezes adiado, passado que estava o momento de prazer de fazer as imagens, deixava-as frequentemente esquecidas. Agora, em plena festa, seleciono todas as imagens, por exemplo do filho de um amigo, e ali mesmo, com o endereço de correio eletrónico, partilho tudo e ele decidirá o que quer guardar. Nem preciso de transferir as imagens, dou um link que vai buscar apenas aquelas que selecionei. Convém dizer que mesmo assim ainda me dou ao trabalho de apagar as mais desastrosas, mas até isso está facilitado.
A seguir vem então a parte da pseudo criatividade como no Prisma. Eu despejo, ou antes, nem faço nada, deixo as fotografias seguirem para os longínquos servidores da Google e ele devolve coisas ainda melhores. De um conjunto de fotografias do mesmo local à procura do melhor enquadramento, cria uma panorâmica sem falhas. De uma sequência de imagens a tentar apanhar o melhor momento faz surgir deliciosas pequenas animações, ideais para uns likes nas redes sociais. Pega em conjuntos de filmes e fotos de um mesmo evento, um encontro de amigos, uma tarde na praia, e cria pequenos filmes com música e tudo que dificilmente acreditamos que não têm mão humana, e estão melhores a cada dia que passa. Na semana passada decidi editar um pequeno vídeo de brincadeira com filhos de um amigo, e até já escolhi a música apropriada. Só que poucas horas antes o Google Photos devolveu-me um filme espetacular, limitei-me a alterar um filtro que lá estava colocado demasiado retro para imagens mergulhos em slow motion (dica, ficam sempre bem) e dar um tom mais moderno. Está tão bem feito que já não sei se vou continuar o trabalho a que me propus, e foi feito por uma máquina, ninguém olhou para aquilo. Tudo isto pode ser gratuito desde que deixemos comprimir as nossas imagens. Dá para entender onde a Google vai buscar dinheiro. Como prezo a qualidade das imagens acabei por pagar o serviço para as ter guardadas com definição original. Além do mais tenho quase 400 Gb de imagens disponíveis em qualquer local em que me encontre desde que tenha acesso à Internet, e estão muito mais bem guardadas do que eu alguma vez conseguiria de outra forma. Quer dizer que pago uma renda, são menos de 10 euros por mês, só neste serviço, mas à escala de uma Google serão uns milhões a pagar, é começar a fazer contas.
Tem medo do Big Brother, não coloque lá as imagens. A Google dá as ferramentas de segurança como a identificação em dois passos e depois não as usamos por preguiça. Mas as vantagens começam a ser tantas que um dia destes não nos imaginamos a viver sem um bom pedaço da nuvem a guardar as nossas coisas. De vez em quando há alguém que me diz que não entra neste jogo, não chega ao número de dedos de uma das minhas mãos a quantidade de pessoas que depois de uma conversa destas me disse que não usava o Gmail.
Claro tudo isto leva a muitas conversas sobre a capacidade das máquinas para substituírem o homem até em tarefas com alguma criatividade, mas como provavelmente tem umas férias e as máquinas não, pode ainda divertir-se com as mil e uma palhaçadas da MSQRD genial para selfies patetas de sucesso garantido. Para estar na crista da onda tem que dominar as ferramentas do Snapchat, ver as novidades no Twitter, colocar as melhores imagens no Instagram e os vídeos no YouTube, não perder o contacto com os amigos no Facebook, pode deixar o Linkedin para quando voltar ao trabalho, ufa… Eu como tenho a sorte de ter uma GoPro comprei uma ferramenta analógica que já me garante imagens espetaculares para toda a época, é uma espécie de selfie stick com bateria incluída mas à prova de água.