Na Índia existem 7112 estações de comboio, de acordo com os dados mais recentes, mas não ficaria surpreendida se existissem mais. Todos os dias, destas estações, chegam e partem milhares de comboios para todos os cantos do país. Locais, noturnos, sleepers, com ar condicionado, sem ar condicionado, a variedade é muita e para todos os gostos (ou quase todos).
As mais de 7000 estações e apeadeiros que completam o mapa – sem contar com aquelas semi-paragens no meio do nada, de onde saltam uns quantos passageiros – fazem com que seja possível viajar e conhecer todo o país de forma pouco dispendiosa, considerando que os bilhetes de comboio são muito baratos se comparados com outros meios de transporte. Alguns chegam a custar menos de 1 euro.
Mas ninguém disse que ia ser confortável… ou rápido… Venham comigo…Já comprei os bilhetes e ficamos em sleeper class…
Viagem 1 – de Calcutá para Varanasi
Comboio: Rajdhani Express 12313 em direção a New Delhi
Duração: 10 horas (que afinal vão ser 12 horas para ir e 14 para voltar)
Data: 14 de junho de 2014
Um mês após a minha chegada à Índia, fiz a minha primeira viagem de comboio e foi realmente uma primeira vez para nunca mais esquecer! Juntei-me a três amigas que planeavam ir até Varanasi durante o fim de semana. Varanasi fica a 10 horas de comboio de Calcutá (se não houver atrasos) e é uma das cidades mais antigas do mundo.
Como elas ja tinham os bilhetes, fui sozinha ao escritório público onde os estrangeiros podem comprar bilhetes de comboio em ‘Foreign class’, que está quase sempre cheia com pessoas de países vizinhos, como o Bangladesh ou o Nepal. Depois de uma espera de três ou quatro horas e uma conversa da qual não entendi nada, porque a pessoa não falava inglês, saí de lá com o meu bilhete para ir na sexta-feira à noite no mesmo comboio que elas. Escusado será dizer que, nessa conversa em bengali, teria sido importante ter percebido, pelo menos, o momento em que me avisaram que só ia com bilhete de ida, porque para voltar já estavam esgotados! Mas isso só viria a saber mais tarde…
A primeira viagem nestes comboios é sempre uma experiência engraçada, com as camas para cada um, arrumadas como em prateleiras, o chai quente às 6 da manhã (e o vendedor de chai a gritar contigo às seis da manhã também), o pequeno-almoço indiano, que distribuem por 10 rupias e que consiste em batatas cozidas com pão (roti indiana). Para mim, significou a primeira vez que saí de Calcutá, à descoberta de todo um mundo novo.
Chegámos à estação de Howrah, em Calcutá, meia hora antes da partida e depois de encontrarmos a plataforma, fomos comprar abastecimentos para as supostas 10 horas que viriam a ser 12: bolachas, água, fruta, papel higiénico, etc.
Eu estava completamente confusa com tudo o que me rodeava aquela altura. Howrah é uma das maiores estações de comboios da Índia, cheia de pessoas por todos os lados e comboios a sair e a chegar às mais de 20 plataformas, com alguém sempre a tentar dar avisos pelo microfone. Foi bom não estar sozinha, pelo menos nesta primeira viagem.
E aí vamos nós…. já com 30 minutos de atraso quando o comboio partiu.
Lembro-me de uma situação engraçada que aconteceu nesta viagem, na ida para Varanasi: acordei muito cedo e saí da minha ‘cama’ para comprar o pequeno-almoço que estava a ser distribuído, e não consegui encontrar os meus chinelos. Procurei, perguntei, e nada. Eram umas havaianas azuis. Pensei que tinham sido roubados e acabei por calçar as sapatilhas. Passado uma meia hora, vejo um senhor a vir dacarruagem seguinte em direção à minha, com os meus chinelos calçados. Fui ter com ele, mas não falava inglês. Mas entendeu-me, porque sorriu e devolveu-me os chinelos. Já estávamos todos em família!
Na vinda para Calcutá, no domingo à noite, finalmente percebi que nao tinha bilhete quando tentei perguntar se o comboio onde supostamente ia estava atrasado. Tentei comprar outro bilhete, mas naturalmente estava tudo esgotado. No final, mesmo contra as ordens do segurança, acabei a dividir a cama com a minha colega Kelly, da Colombia, que viajava comigo. Super desconfortáveis, foram 14 horas bastante difíceis de passar, mas finalmente chegamos a Calcutá, na segunda-feira, às 7 da manhã, a precisar de um banho, mas prontas para ir trabalhar às 9h.
Foi sem dúvida uma viagem que nunca esquecerei. Depois de Varanasi, foram muitos os comboios que apanhei durante os anos de 2014 e 2015 e cada um com as suas estórias.
Dizem que é a melhor forma de conhecer o país. Isso não sei. Mas sei que é, sem dúvida, a melhor maneira de chegar sempre atrasado ao destino!
VISTO DE FORA
Dias sem ir a Portugal: 137
Nas notícias por aqui: Índia evacua localidades na fronteira com o Paquistão.
Sabia que por cá… Para viajar de comboio, o viajante pode nao ter lugar garantido. Basta comprar o ‘General Ticket’ e pode ir em pé a viagem toda. Desde que se tenha comprado ‘General Ticket’, o seguranca não te pode expulsar do comboio mesmo que não haja lugar para ti. É por isso que se vê muita gente em pé, pendurada nas portas, em cima do comboio, sentada no chão do comboio, etc.
Um número surpreendente: 7112 é o número registado de estações de comboio em toda a Índia.