A aquisição da Sextante pela Porto Editora é a última movimentação do agitado mercado editorial português. Mas para Vasco Teixeira, 54 anos, administrador e director editorial da empresa nortenha, trata-se mais da defesa de um projecto de interesse para a língua e a cultura portuguesas, do que uma operação meramente comercial. Essa é, de resto, a grande linha de acção que tem vindo a definir para a Porto Editora. Um crescimento sustentado e de qualidade, com os livros à frente dos resultados.
Jornal de Letras: Qual a importância da integração da Sextante na Porto Editora?
Vasco Teixeira: É sobretudo a possibilidade de dar sequência à Sextante, um projecto de três anos, de grande qualidade e liderado por uma pessoa muito experiente e capaz, o João Rodrigues. Mas que, com a crise e as especificidades actuais do mercado livreiro, estava a atravessar algumas dificuldades. Com a integração na Porto Editora, a Sextante terá um segundo fôlego e uma nova vida.
Não houve só um interesse económico, mas também cultural?
Diria até que foi quase exclusivamente um interesse cultural. Para a Porto Editora, que é o maior grupo editorial português, a Sextante não vem aumentar a facturação de uma forma significativa, nem a sua dimensão. Vem, no entanto, acrescentar, no campo editorial, uma fatia importante para nós. O leque de autores portugueses e estrangeiros não são comerciais ou de grandes vendas, mas são de muita qualidade.
Podemos dizer que esta é a primeira de outras compras?
Outras compras podem ou não surgir. A Porto Editora tem uma estratégia de crescimento bem definida e analisará as oportunidades caso a caso. Sem qualquer voragem competitiva ou economicista. A nossa postura perante o mercado é sempre pensar primeiro na edição dos livros e nos projectos, só depois nos resultados.
Um furor nas concentrações pode ser prejudicial para a edição em Portugal?
Há espaço para tudo. Mas o perfil da Porto Editora não é de grande agressividade comercial. Queremos uma diversificação, mas com qualidade e preenchendo campo editoriais que sejam importantes para a nossa cultura e língua.
Têm vindo a público notícias sobre o eventual interesse da Porto Editora nos activos do grupo Bertelsmann. Confirma?
Não posso comentar essa situação. Não é a altura adequada para o fazer.
O crescimento da Porto Editora passa também pela internacionalização. O que podemos esperar nessa área?
A internacionalização passa sobretudo por Angola, Moçambique, São Tomé e Príncipe, Cabo Verde, Guiné-Bissau e Timor. Temos actividades em todos esses países, muito centradas no livro escolar, mas não só. Também temos publicado literatura africana.
Em relação ao Acordo Ortográfico, como é que a Porto Editora encara a sua entrada em vigor?
Já temos os programas informáticos, por isso de um momento para o outro poderemos converter os nossos ficheiros informáticos. Contudo, no que toca ao sistema educativo, a sua aplicação deve ser bem estudada. Se para os adultos o Acordo não traz problemas, pois cada um pode usar a grafia que quiser, na Educação, assim que estiver em vigor, passa a ser a norma. É preciso planear um conjunto de medidas que têm custos, inclusivamente para os pais. Vai ser necessário substituir bibliotecas, dicionários e gramáticas. Por outro lado, há a questão de Angola e Moçambique. Os dois países ainda não disseram quando vão adoptar o Acordo. Será um erro estratégico Portugal implementá-lo sem acautelar que esses países também o façam num período relativamente próximo. Por último, é preciso lembrar que se o Acordo não for bem pensado em termos de implementação poderá haver problemas e prejuízos em relação aos stocks dos editores e dos livreiros.