JL O que motivou esta aposta de Abrantes num Festival de Filosofia, que vai agora para a segunda edição? O que é que a Filosofia tem para oferecer, a Abrantes e não só?
Há anos que Abrantes tem um compromisso com a filosofia e se sente alguma presença de filosofia prática, nomeadamente através da existência de um Clube de Filosofia e de um programa de rádio semanal. Mas já nos anos noventa organizámos o Festival do Imaginário que, num certo sentido do pensar, foi uma pedrada no charco a nível nacional.
O Festival de Filosofia de Abrantes (FFA) pretende ser uma afirmação da filosofia na vida quotidiana. Do que deve ser pensar a vida na cidade, na de Abrantes e nas outras.
A filosofia não é um exclusivo de filósofos e académicos. Já Kant dizia que não se ensina filosofia, mas ensina-se a filosofar. A filosofia requer um método ao alcance de todos e uma atitude crítica e isenta de preconceitos. Assim pode ajudar a perspetivar as nossas experiências individuais e enquanto comunidade e a envolver-nos na construção e compreensão dos valores, da realidade e das práticas.
O primeiro passo do filosofar é a identificação dos valores que dão sentido à nossa vida individual e em sociedade. Depois é indispensável criticá-los, questioná-los face ao sentido que queremos dar à vida e, finalmente, é preciso mantermos uma dialética de permanente reconstrução.
É neste sentido que o FFA é parte da presença da filosofia na cidade. Pretende-se que a filosofia e o pensamento voltem à rua, ocupem a praça, atuem no espaço público e promovam o diálogo. O debate e a participação dos cidadãos são fundamentais na intervenção sobre o nosso mundo, a nossa vida e o nosso tempo. Não podemos deixar esse debate apenas para os pensadores oficiais, qualquer que seja a perspetiva em que se enquadrem: política, educativa, científica, económica, ou qualquer outra. Queremos fazê-lo com especialistas convidados, portugueses e estrangeiros, com qualificações que nos permitam ver mais longe, mas queremos também envolver e qualificar os nossos.
O FFA quer ser a praça aberta, o espaço da esfera pública que convida à reflexão, desafia, dá voz aos cidadãos e marca posição, assumindo-se como um lugar de encontro de, com e entre pessoas, para uma melhor compreensão de si próprias e do mundo.
O tema desta edição prende-se com a tecnologia, a inteligência artificial e o trabalho. Porque consideram relevante pensar estas questões?
Este ano o tema é “A inteligência artificial, o trabalho e o humano”, com duas linhas temáticas de reflexão: automação e organização do trabalho; primado do instrumental vs. do humano.
Este tema é atual e reveste-se de grande importância, pelo que urge convocar os cidadãos e discuti-lo na praça pública. Queremos pensar o quotidiano para perspetivar o futuro e não queremos ficar por questõezinhas domésticas, mas antes abordar as grandes questões do nosso tempo.
No ano passado tratámos “O Regresso da História: a crise da democracia, a religião e os fundamentalismos”. Este ano vamos debater os desafios que a automação e a inteligência artificial colocam à nossa organização social e ao estatuto do humano num futuro que se aproxima. Fala-se num futuro sem trabalho e numa sociedade pós-humana? Mas num sentido libertador ou de dependência e crise social sem precedentes? O tema é da maior atualidade e importância, queremos por isso saber e refletir sobre ele.
O que já sabemos é que com a 4ª Revolução Industrial, que aí vem, poderemos estar à entrada do éden ou à beira do inferno. Do que não parece haver dúvidas é de que a forma como vivemos, nos relacionamos e trabalhamos vão mudar radicalmente. Emergem tecnologias que esbatem as fronteiras entre o físico, o digital e o biológico. As consequências serão, a todos os níveis, incalculáveis.
A automação e a inteligência artificial permitirão uma reorganização social do trabalho, pois cada vez mais pessoas poderão ser substituídas por máquinas, tornando-se descartáveis. Mas então como sobreviverá a economia de mercado com centenas ou milhares de milhões sem rendimentos do trabalho?
E se o próprio conceito e estatuto de humano, num futuro próximo, poderão estar em causa, qual o papel da política no meio disto? E nós, homens e mulheres, criadores e criaturas deste filme, como devemos atuar? Vamos ficar à espera que a mudança nos arraste na enxurrada ou vamos tentar compreender e antecipar os acontecimentos para sermos protagonistas dessa mudança e tentarmos adequá-la às nossas necessidades?
A prova de que o assunto é muito pertinente é que desde que o decidimos como tema, após o final da 1ª edição do FFA, em novembro de 2017, a sua emergência nos media e na sociedade tem sido notória.
Veem o turismo cultural como uma fonte potencial de receitas para a autarquia?
O turismo cultural é, claramente, uma aposta da Câmara de Abrantes, materializada no seu programa de ação, vertida nos documentos de planeamento da autarquia e no aproveitamento dos fundos do atual quadro comunitário.
Esta aposta é para nós uma linha de trabalho com vista ao retorno económico a favor do território e dos seus agentes.
Essa aposta no turismo cultural enquadra-se numa visão integradora e estratégica municipal de criação de uma nova rede polinuclear de equipamentos culturais, destacando-se o Museu Metalúrgica Duarte Ferreira, na vila do Tramagal – Prémio Museu nacional do ano de 2018 (APOM), Museu Ibérico de Arqueologia e Arte (em construção), o Museu de Arte Contemporânea Charters de Almeida (em projeto), a QuARTel da Arte Contemporânea de Abrantes, Coleção Figueiredo Ribeiro, associada à promoção do conhecimento de uma cartografia cultural e de uma agenda fortemente reconhecida na região.
Junta-se ainda à estratégia do Turismo do Centro em alargar os anéis de atração do património mundial (Alcobaça, Batalha, Coimbra e Tomar) a novas áreas de intervenção ligadas à valorização do edificado, como o Concurso Internacional de Ideias para o Castelo/Fortaleza de Abrantes, do turismo cultural e de reabilitação do património religioso, como as Igrejas de Santa Maria do Castelo, S. Vicente, S. João e da Misericórdia.
Em consonância com a sub-região onde estamos inseridos, o Médio Tejo, que tem um potencial imenso, estamos a estruturar uma oferta de produto turístico que valorize o nosso património, que valorize os nossos ativos, para trazermos as pessoas para dentro do nosso território.