Todos os dias o ritual repete-se. Noca Ramos pega na sua bicicleta e sai de casa, na Gafanha da Nazaré. Apanha o ferry até S. Jacinto e depois pedala forte pela marginal da Costa Nova. “Chego a fazer mais de 100 quilómetros!”, conta. Quem o vê na bicicleta – a última é preta -, até costuma brincar: “Lá vem o Batman…” Mas a maioria desses desconhece que Noca Ramos, 37 anos, formado em arquitetura e em design de comunicação, é dos poucos portugueses que se pode gabar de conduzir uma bicicleta totalmente concebida e fabricada por si. O que começou por ser um passatempo “para limpar a cabeça”, ameaça tornar-se num sério negócio.
Desde que tem publicado fotos das suas bikes (já possui sete) em fóruns internacionais de apaixonados pelas duas rodas, não param de lhe chegar propostas para construir réplicas das suas bicicletas. Sobretudo de Barcelona e Bilbau, em Espanha, mas também de Nova Iorque. “Nunca pensei fazer disto negócio, só que está a ser cada vez mais difícil dizer que não. Sou apenas um designer que faz bicicletas no tempo livre”, brinca. Noca Ramos confessa-se “assustado” com o êxito que as suas criações têm obtido – principalmente, no estrangeiro. “Há pessoas que me dizem: ‘Tenho a foto da tua bicicleta como fundo no ambiente de trabalho.’ Acho incrível.”
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Desde que se lembra de ser gente que este designer freelancer, “apaixonado pelas culturas nórdicas”, convive com as duas rodas. Na Gafanha da Nazaré, perto de Ílhavo, a bicicleta é (ainda) o transporte mais utilizado. “As minhas grandes ideias profissionais surgem a andar de bicicleta”, diz. Foi com naturalidade que, há quatro anos, começou a passar as horas livres na garagem da casa dos pais, onde montou a sua “oficina”.No início, tentava “personalizá-las”, mas isso acabou por não lhe chegar. Foi então que pegou no papel – “Desde miúdo que adoro projetar coisas, fazer rabiscos” – e desatou a desenhar bicicletas: calculou os ângulos, a geometria, as distâncias para a construção do quadro (uma das peças fundamentais e que mais fãs tem conquistado). “Demorei oito meses só a afinar geometrias.” As peças e componentes são adquiridas uma a uma. Os tubos de aço são escolhidos a dedo e entregues, para soldar, “ao sr. Valdemiro, um dos últimos construtores de bicicletas de Ovar”. Noca Ramos fecha-se, depois, na oficina e junta tudo: o guiador, as rodas, o selim… e a cor. Para obter colorações invulgares, faz adições gota a gota. “Nenhuma é igual a outra”, garante.
Às bicicletas, Noca Ramos acrescentou uma linha de T-shirts, com igual sucesso fora de portas. Embora possa construir bicicletas à medida do cliente (por 500 euros, no mínimo), as que distinguem a sua marca My Bikes são as de pista, sem travões nem mudanças, que param ao contrariar os pedais para trás.
Caracteriza as suas peças como “nuas e despidas”. E, sobretudo, muito leves. Feitas à mão e, portanto, com carinho. Uma a uma. Daí que haja algumas _ as primeiras, principalmente – que não vende por dinheiro nenhum. “Nem que me dessem uma casa na Foz do Porto!”