É um aglomerado de disciplinas que faz com que um ser humano se potencialize no seu expoente máximo.” É assim que Tiago Martins, 38, tenta descrever o movement – uma nova forma de exercício físico que mistura capoeira, dança contemporânea e supostos movimentos de animais, quase tudo praticado rente ao chão.
O primeiro professor desta disciplina em Portugal compara-a com as aulas de força e de coordenação, que se focam num determinado objetivo da atividade física; no movement, é exatamente o oposto. O método rege-se pela trilogia isolar, integrar e improvisar. “Durante semanas ou meses, trabalhamos habilidades próprias para conseguir juntar tudo como se fosse um puzzle. Às vezes, estou a fazer trabalho de equilíbrio e no mês a seguir já estou a trabalhar outro tipo de situação, para no terceiro mês juntar tudo.” Por outras palavras, todos os aspetos que são trabalhados em separado, nas diferentes áreas do desporto, são aqui explorados individualmente e depois fundidos num só.
Esta prática, que começou a ser desenvolvida nos anos 2000, é também conhecida por “método Ido Portal”, nome do seu fundador. O israelita Ido Portal praticava artes marciais e capoeira, até perceber que não era uma disciplina em questão que o satisfazia, mas sim o movimento no seu todo. Viajou pelo mundo com o objetivo de encontrar um tutor à altura da sua exigência; não tendo encontrado ninguém, acabou por criar o seu próprio método.
“Um estilo de vida”
Tiago Martins, que conheceu Ido Portal quando este veio, pela primeira vez, a Portugal, em 2015, está ligado ao mundo do exercício físico desde os 4 anos. Começou pela ginástica e foi atleta de alta competição durante mais de 20 anos, antes de enveredar pela dança e pelo circo contemporâneo, em diversos países. “O movement apareceu na minha vida quando precisava de uma coisa totalmente diferente e que sabia que podia potencializar-me enquanto intérprete e atleta. Só que não queria mais a rigidez da ginástica, a contagem e o ritmo da dança nem o aparato do circo. Na altura encontrei o Ido Portal, que atualmente é meu mentor, e identifiquei-me automaticamente com ele”, conta.
Para André Dias, 27 anos, outro professor de movement, o método “surgiu pela procura de várias disciplinas ao mesmo tempo”. “Já praticava muitas componentes de exercício físico, como artes marciais, e o facto de saber que existia alguém que já fazia isto foi uma forma de organizar ideias e conceitos na cabeça e indo aos poucos deixando isto ou aquilo, e juntar tudo numa metodologia.”
“Desde que vivas num corpo e sejas um ser humano, és um potencial mover”, refere Tiago Martins. Filosofias à parte, o mais importante é o contacto com o chão. Esponjas de natação, bolas e outros utensílios comuns também são utilizados, dependendo do pormenor que está a ser trabalhado. Quanto a horários, tanto Tiago Martins como André Dias praticam sete dias por semana, durante várias horas, e defendem que as pessoas devem igualmente fazê-lo todos os dias, mesmo fora do horário das aulas.
O movement não tem como objetivo atingir os habituais resultados da prática desportiva, como o desenvolvimento da massa muscular. Esta prática é vantajosa na medida em que “explora ao máximo o potencial de movimento que nós temos”, explica André Dias. “Algumas pessoas acham suficiente trabalhar este potencial dentro do ginásio, numa passadeira ou sentado numa bicicleta, mas isso é redutor da capacidade do nosso corpo.”
Influenciados pela prática do Ido Portal, o projeto de movement de Tiago Martins, André Dias e uma terceira sócia, Leonor Madeira, dura há quatro anos, e desde o ano passado que as aulas são feitas no IronBox CrossFit Jamor. Cada aula dura entre uma hora e uma hora e meia e custa 7,5 euros.
A ambição é “pôr Lisboa no mapa” da modalidade, diz Tiago Martins. Já não está assim tão longe quanto isso: em 2018 e este ano, o European Movement Meeting decorreu na capital portuguesa. No encontro do mês passado, no Ginásio Clube Português, que contou com a presença de Ido Portal, juntaram-se cerca de 150 participantes, de 20 países, durante seis dias. Em novembro, de 9 a 13, vai igualmente ter lugar no Alentejo o primeiro retiro de movement em Portugal.
Tiago Martins espera “crescer, obter o respeito e a curiosidade das pessoas e tentar fazer com que estas sejam mais inteligentes na forma como trabalham o corpo”, evitando aquilo a que chama de práticas sedentárias, “como ir ao ginásio”. “O movement não é só uma prática, é um estilo de vida.”