Habitualmente, os anúncios das marcas de produtos de higiene feminina, como pensos higiénicos e tampões, representam o sangue menstrual com um eufemístico líquido azul.
No entanto, um estudo de mercado encomendado pela multinacional sueca Libresse, especializada neste tipo de produtos, revelou que 74% das mulheres gostavam de ver a menstruação representada de forma mais realista nos anúncios publicitários.
Por isso, aos poucos, a marca de produtos de higiene feminina tem vindo a fazer uma pequena revolução nos mercados onde está presente. Desta vez, foi na Austrália que se estreou a campanha que mostra uma mulher com a roupa interior manchada de vermelho ou uma rapariga com sangue a escorrer enquanto toma banho.
Foi a primeira vez que a menstruação foi representada com a cor vermelha na televisão australiana. E foram mais de 600 os telespectadores que mostraram a sua indignação – o maior número de queixas registadas este ano dirigidas a um único anúncio.
As reclamações incluíam acusações de “mau gosto”, mas também de “humilhar as mulheres por expor um assunto privado” ou de “obrigar as crianças a verem uma mulher a deitar sangue no duche”.
Depois de analisar as queixas, a entidade reguladora da publicidade da Austrália decidiu que “representar sangue numa campanha sobre produtos de higiene feminina não vai contra nenhum princípio ético”. Afinal, “trata-se de uma reconstituição rigorosa de uma ocorrência física natural”. E negou que o conteúdo fosse “ofensivo” – incluindo para as crianças.
Além de não dar seguimento às reclamações, o regulador valorizou a campanha por “promover a igualdade e a desmitificação do período”, uma vez que a menstruação não é associada a “vergonha” ou a qualquer “linguagem ou imaginário negativo” no anúncio.
Alguns dos queixosos argumentavam que normalizar o período era “desnecessário” e que “forçava os pais a conversarem com os filhos sobre o tema”.
Travar o tabu
Os resultados do estudo de mercado encomendado pela multinacional sueca foram decisivos para o lançamento da campanha, sob o mote “O período é normal. Mostrá-lo também devia ser”.
A empresa concluiu que as inquiridas consideravam o tratamento irrealista da menstruação nas campanhas publicitárias como um dos responsáveis pelo tabu em torno do tema, a utilização de líquido azul, em vez de vermelho, era apontada como um mau exemplo.
Oito em cada dez mulheres inquiridas afirmaram esconder quando estavam com o período, enquanto 70% das jovens em idade escolar prefeririam chumbar a uma disciplina do que contar aos colegas quando estavam menstruadas.
Há dois anos, a mesma campanha estreou-se no Reino Unido, mas também já passou por França, Holanda, Noruega, Suécia, Finlândia, Dinamarca, Ucrânia, Itália, Estados Unidos da América, Argentina e África do Sul.
O acesso a produtos de higiene feminina é um importante indicador de pobreza. A ONG britânica The Red Box Project estima que 137 mil raparigas faltem à escola no Reino Unido, todos os anos, devido a falta de acesso a estes produtos quando estão menstruadas.
De acordo com as Nações Unidas, uma em cada dez meninas na África Subsariana falta à escola quando está com o período. E o preconceito relativamente à menstruação continua a fazer vítimas. Recentemente, uma jovem estudante queniana suicidou-se depois de ser ridicularizada na sala de aulas por estar com o período.
A primeira campanha de sempre a incluir uma mancha vermelha num penso higiénico foi lançada pela marca norte-americana de produtos de higiene feminina Always. Foi para o ar há apenas seis anos.