O leilão começou no dia 25 de outubro e o post foi removido pelo Facebook a 9 de novembro, duas semanas depois. Tempo suficiente para a mão de Nyalong Ngong Deng ser arrematada por um empresário do Sudão do Sul, de onde é a família da jovem, por cerca de 500 vacas, três carros e 10 mil dólares (mais de 8.700 euros). Segundo a Aliança Nacional do Sudão do Sul para as Mulheres Advogadas, este é o valor mais elevado pago por uma noiva na região.
O caso deixou o Facebook debaixo de fogo, entre a indignação por isto ter acontecido “à vista” de todos e o receio de que sirva de inspiração para outras famílias com o mesmo propósito.
Segundo a organização Plan International, que se dedica à defesa dos direitos das crianças, a adolescente foi licitada por cinco homens, entre os quais alguns nomes que ocupam cargos importantes do Governo do Sudão do Sul.
“Que uma rapariga possa ter sido leiloada para casar no site da maior rede social do mundo nos nossos dias é inacreditável”, considera George Otim, diretor regional da organização. Os pagamentos em troca da autorização para casar com uma filha são comuns no país, mas, para o responsável, o uso da tecnologia leva esta prática a “outro nível”. “Este uso barbárico da tecnologia é remanescente dos mercados de escravos de outrora”, lamenta, em declarações à CNN.
Também a Equality Now, uma organização focada na igualdade de género, critica a rede social. “O Facebook permitir que a sua plataforma intensifique as violações [contra os direitos das mulheres] é um problema”, nas palavras de Judy Gitau, coordenadora da organização em África.
O Facebook já reagiu, em comunicado, lembrando que não admite “qualquer forma de tráfico humano – sejam posts, páginas, anúncios ou grupos”. “Removemos o post e apagámos permanentemente a conta da pessoa que o publicou”, garante a rede social, que acrescenta que está “sempre a melhorar os métodos para identificar conteúdo que viole” as suas políticas.
Os últimos dados da UNICEF, de março deste ano, mostram que 52% das raparigas no Sudão do Sul casam antes dos 18 anos, com a agência das Nações Unidas para a infância a explicar que os elevados níveis de pobreza e instabilidade alimentam o casamento infantil no país.