Joana Paula Silva fez parte do primeiro grupo de condutores de tuk-tuk em Lisboa. Porém, o fenómeno exótico de 20 ou 30 veículos, na altura olhados com divertida curiosidade pelos lisboetas, rapidamente se alastrou e a cidade foi ficando atafulhada, e num tempo em que a maioria dos tuk-tuks ainda queimava combustíveis fósseis. “Não estava a gostar do impacto que começavam a ter e larguei a atividade para passar a fazer cycle tours, em ações de team building”, conta. Juntou o útil – a prática que tinha de guiar turistas – ao agradável – passear de bicicleta, como sempre fez na sua cidade.
Depois de umas experiências a pedalar em Lisboa, decidiu mudar-se para a Margem Sul e criar, com o pai, uma empresa especializada em passeios turísticos de bicicleta – a Varina. “Fiz um projeto com os pescadores e passei a organizar tours ligados à pesca, sobretudo à arte xávega, na Trafaria, na Costa da Caparica e na Cova do Vapor.”
Claro que a Arriba Fóssil, sobranceira ao mar, é um dos pontos altos do passeio. Porém, a Varina é muito mais do que pedalar (e também menos: as bicicletas são elétricas). “Descemos para as vilas piscatórias, passamos pela lota e visitamos famílias de pescadores”, descreve Joana. “Tem um cariz social: o grande momento da tour é quando nos sentamos à mesa com as pessoas, a falar sobre pesca, a comer bolinhos e a beber um copo de vinho. As famílias, muitas vezes, recebem gorjetas dos turistas, mas há quem se recuse a aceitar.” Uma das tours inclui ainda uma aula de ioga.
Os grupos têm no máximo dez pessoas, e os passeios, que custam €40 (€35, se adquiridos na loja) e duram de duas horas e meia a três horas, têm chamado a atenção de muitos turistas americanos, australianos, holandeses e alemães. E, ao contrário do que se poderia pensar, o negócio das tours de bicicleta sobrevive o ano inteiro. “Não temos assim tantos dias de chuva. A diferença é que, no verão, há uma paragem para um mergulho na praia e, no inverno, bebemos um chá quente em casa de pescadores”, descreve Joana Paula Silva.
A democratização das elétricas
A massificação das bicicletas elétricas é o motor (salvo seja) das várias empresas deste tipo, que foram nascendo em Lisboa e no Porto e, depois, foram se espalhando ao resto do País. Cidades feitas de altos e baixos, que eram um desafio para as duas rodas, tornaram-se entretanto cicláveis até pelo ciclista ocasional. É, no entanto, preciso conhecer os melhores percursos, avisa Gonçalo Ramalho, um dos dois fundadores da Cycling Lisbon, uma das empresas portuguesas do género mais bem classificadas no Trip Advisor. “Lisboa é bike friendly. No entanto, muitas vezes, o caminho mais curto para ir de A a B não é o melhor.”
Os clientes não se queixam. “A vantagem da bicicleta em relação a outras formas de conhecer a cidade é que podemos ver mais coisas em menos tempo, de modo divertido e com uma pegada ecológica muito reduzida”, continua Gonçalo. Também ajuda o lado gastronómico dos passeios a dar outro sabor às clássicas paragens junto aos principais monumentos. “Temos dois percursos, um com bicicletas tradicionais e outro com elétricas, em que a gastronomia é o fio condutor. No primeiro, de quatro horas, é incluída a ginjinha e o pastel de nata; no segundo, também de quatro horas, fazemos um piquenique em Monsanto com produtos portugueses, como presunto, queijo, broa…”
Esta é outra vantagem da bicicleta: oferecer uma excelente desculpa para satisfazer a gula. Afinal, é preciso repor as energias gastas a pedala