Tem tudo a ver com a resiliência – ou melhor, com a sua formação – e neste caso está diretamente ligada à linguagem utilizada. Uma equipa de psicólogos da Universidade de Nova Iorque, liderada pela doutoranda Emily Foster-Hanson, descobriu que chamar “pequeno ajudante” a uma criança faz-lhe mais mal do que bem.
Embora carinhosa, essa expressão leva a que ela largue mais facilmente a tarefa se encontrar uma dificuldade pelo caminho. Ou mesmo no futuro. Pedir-lhe apenas para “ajudar” é muito mais eficaz, segundo este estudo publicado no jornal Child Development. E a explicação está na força dos verbos – falar em ações leva à resiliência, enquanto usar substantivos como “ajudante” não surte o mesmo efeito.
“Este estudo mostra como especificidades da linguagem podem moldar o comportamento das crianças”, disse ao Independent uma das suas co-autoras, Marjorie Rhodes, professora do Departamento de Psicologia da Universidade de Nova Iorque. “Em particular, usar verbos para falar com elas sobre comportamentos – como ‘podes ajudar’ – leva a mais determinação depois de um revés do que usar substantivos sobre identidades – como ‘podes ser um ajudante’”.
Este novo estudo contradiz um outro anterior, de 2014, que sugeria que pedir aos miúdos para “serem ajudantes” levava-os a ajudarem mais. A diferença é que desta vez os investigadores focaram-se nos fracassos e nas reações dos miúdos. E concluíram que, ao usarmos essa expressão mais carinhosa, o tiro sai pela culatra: quando algo corre mal, eles desistem facilmente.
Os investigadores puseram crianças entre os 4 e os 5 anos a desempenhar tarefas simples, como arrumar caixas meio defeituosas, cheias de brinquedos. Sempre que uma delas caía e os brinquedos se espalhavam no chão, analisavam as suas reações. E verificaram que as crianças a quem tinha sido pedido para ajudarem pontualmente mostraram maior capacidade de recuperar do revés.
Cada um dos miúdos teve três oportunidades para ajudar. Os psicólogos concluíram ainda que os “pequenos ajudantes” só cumpriam as tarefas se elas eram fáceis de executar e se também saíam beneficiados (e não apenas os adultos).
Parece uma mera questão de semântica, mas a verdade é que o significado das palavras tem importância. E prova-se, uma vez mais, que é de pequenino que se forma a personalidade.