Começemos pelo princípio, que foi assim que me ensinaram, aproveitando para confessar de antemão que já não me lembrava da última vez que tinha posto os pés em cima de uma scooter, sendo eu a condutora. Não estava confiante, claro, mas o diretor da eCooltra, a empresa que tem 170 motinhas na cidade para serem partilhadas, garantiu-me que entre os seus clientes, há muita gente como eu. E com esta informação, não tive mais remédio se não descarregar a app, fazer o meu registo e avançar para uma mota. Apanhei-a junto ao mercado de Arroios – era a que estava mais perto da minha localização, no final da Guerra Junqueiro. Fiquei logo a saber qual a sua matrícula, a percentagem de autonomia, o preço por minuto (24 ou 29 cêntimos, dependendo da caução), e a sua exata localização. Apesar de saber onde estava, preferi pedir ajuda aos mapas e funcionou bem. Antes de carregar em iniciar, tive de retirar-lhe o descanso e esperar que o botão start/stop começasse a piscar. Tudo certo. Carreguei então em abrir capacete, ouvi um clic e no assento encontrei uma touca e a proteção prevista por lei (há outro exemplar na mala, que se abre com chave). Subi para a mota, vi se os pés chegavam ao chão e comecei a acelerar. Ainda bastante devagar e a apalpar terreno, decidi ir pela Almirante Reis abaixo, até ao Martim Moniz. Em pouco tempo, retomei o gosto – a sensação de ir numa motoreta que não faz nem um ruído (nem uma emissão) é gratificante. Segui ligeira e contente, avenida abaixo, e só me atrapalhei com os carris dos elétricos, com medo de derrapar. Acabei por me distrair quando me cruzei com outro utilizador e acenamos, sorridentes. A viagem acabou no Intendente, depois de dar a volta ao Martim Moniz, num instantinho, apesar da hora de ponta. Estacionei num canto, atrás de um carro (a app pergunta se tenho a certeza que estacionei num local autorizado), finalizei a viagem e esperei que os sensores dessem tudo por confirmado.
Pedalar com impulso
A aventura das bicicletas não tem tantos meandros, porque esse é um meio que utilizo sempre que posso e acho que domino a coisa. E por isso mesmo, preferi uma eletricamente assistida (é a forma correta de designá-las) para experimentar uma realidade nova. Devo dizer já que fiquei fã.
Dirigi-me a uma estação teste, na zona sul do Parque das Nações, com a aplicação aberta, indicando-me quantas bicicletas estão disponíveis. Escolhi a que queria, baixei o assento a custo, que os mecanismos destas Orbita ainda estão perros do pouco uso que têm, e sentei-me. Mal comecei a pedalar, senti o impulso da eletricidade e desatei a andar por ali fora, embalada pela facilidade que senti. Percebi que estes modelos têm sete velocidades, mas que nem são necessárias porque do lado esquerdo há cinco ajudas elétricas e isso faz com que deslizemos com ligeireza. Só para tirar teimas, subi a rua mais íngreme dos Olivais, e atingi os 25 quilómetros a assobiar para o lado. Na descida, ultrapassei os 30. Não sabia quanto tempo já tinha gasto da minha meia hora de teste, porque no conta quilómetros digital essa informação não aparece e o telemóvel estava no bolso. Tive de parar para consultar a aplicação e saber se tinha de me dirigir a uma doca. Assim o fiz, encaixei a bicicleta no seu posto, finalizei a viagem, e deixei-a a carregar para o próximo que viesse.
Não pagar parquímetro
Os carros da Citydrive ainda são poucos, é verdade, mas alegrou-me saber que a frota vai aumentar seis vezes e tornar-se maioritariamente elétrica. Por agora, só há Opel Adam e Skoda Fabia à disposição e é um dos primeiros que está mais perto da 24 de julho, onde consegui deixar o meu carro sem pagar parquímetro. Mesmo assim, tenho de andar quase um quilómetro para apanhá-lo, na Rua da Emenda, e o caminho, debaixo de sol, custou um bocado. Já tinha percebido pela aplicação que o carro tinha menos de metade de autonomia e que não estava limpo. Não havia alternativa nas redondezas. Investi, sem medos. Quando cheguei ao pé dele, achei que o carro utilitário estava num brinquinho e pensei que se vissem o meu iriam desmaiar. Ainda bem que não o cedo para uma solução pier to pier, o chamado airbnb dos carros, que também já funciona em Lisboa.
Abri as portas com a aplicação e retirei a chave de um buraco no porta luva onde elas devem estar encaixadas. Depois, a condução é igual a um carro comum e limitei-me a fazer o meu percurso natural. Depois, estacionei-o num parquímetro da Emel, numa zona vermelha, em pleno Chiado. Que satisfação sair do carro e não ter de procurar moedas na carteira. Estes modelos de carsharing não precisam de pagar parquímetros e só isso representa uma enorme vantagem. Com isto tudo, atrapalhei-me e não consegui fechar o carro a partir da aplicação. Tive de ligar para o número que aparece no tablier e fui muito bem atendida. O problema resolveu-se em segundos e eu segui noutra direção. Agora a pé, que também é um excelente meio de transporte.
Em exame:
Depois de experimentar todos os meios de transporte partilhado disponíveis em Lisboa, cheguei aos seguintes benefícios e contrariedades:
Prós
* De mota ou de bicicleta, deslocamo-nos mais depressa, quando há trânsito;
* Contribuímos para a diminuição dos níveis de CO2 da cidade;
* Não precisamos de comprar os veículos em questão;
* Podemos estacionar os carros nas zonas de parquímetros da Emel sem pagar;
* As motas são mais fáceis de arrumar em Lisboa;
* Não há preocupações com a autonomia, quer de bateria, quer de gasolina.
Contras
* É preciso ter um smartphone e dominá-lo
* Os pagamentos são todos feitos através de cartão de crédito
* Nem sempre o telefone tem memória para descarregar as respetivas aplicações
* Se a bateria do telefone acabar, não se pode continuar a usar os serviços;
* Nas motas, o telemóvel não pode ser guardado no interior do banco, porque este só pode ser aberto através da aplicação;
* Nas bicicletas, senti falta de um cronómetro que informe acerca do tempo usado/disponível, ou de um local visível onde transportar o telemóvel