O Instituto de Medicina Legal já entregou dez corpos às famílias das vítimas. A estratégia foi começar pelos cadáveres mais bem conservados, em que é mais fácil fazer a identificação. Tatuagens, a roupa que tinham vestida na altura são pistas importantes para ajudar nesta missão. Os corpos mais carbonizados, em que há menos material orgânico disponível, irão demorar mais tempo a reconhecer. “Um fator que pode acelerar o processo é o facto de estes corpos estarem dentro das viaturas, o que facilita, já que podemos comparar com os registos de propriedade na posse da Polícia Judiciária”, conta Gonçalo Carnim, do Instituto de Medicina Legal de Coimbra, que centraliza as operações.
Desde as oito da manhã de segunda que os trabalhos decorrem em contínuo, só com pausas para as refeições. Vieram reforços de outras delegações do centro e da delegação norte do Instituto. Operam três equipas em simultâneo, ocupando duas salas de autópsia.
Para já, ainda não foi necessário recorrer às análises genéticas, que não estão descartadas, nos casos em que há pouca informação adicional. A identificação das crianças será mais difícil, uma vez o osso -elemento crucial para a identificação em casos de incêndio – está menos protegido por músculo, logo estará mais destruído.
“É uma situação muito dura. Quando chegámos ao local, para a recolha dos corpos, foi um choque. Imaginamos o sofrimento porque as pessoas passaram, o pânico. Vemos as crianças ao colo de adultos, as posições em que estão no carro. Sentimos uma grande consternação”, admite Gonçalo Carnim.
O especialista sublinha, no entanto, que quando se entra na sala de autópsias, as emoções ficam de lado e prevalece o o espírito de missão. “Queremos fazer o trabalho, o mais rapidamente possível, para que os familiares possam fazer o luto”.
“Nunca vivemos nada assim. Mas estamos preparados para isso. E nada se compara ao sofrimento dos familiares das vítimas e de todas as pessoas que passaram por esta tragédia.”