Há mais de oito anos que os fundadores do Restart Life Centre ouviam pais e profissionais pedirem ajuda para miúdos mais novos. Na verdade quase desde que abriram, em Fall City, no estado de Washington, o primeiro centro do País para tratar jovens dos 18 aos 30 anos viciados em tecnologias.
Segundo Hilarie Cash, especialista em dependência da internet e jogos de vídeo, e os seus parceiros, Cosette Rae e Gary Simmons, o problema é detetado cada vez mais cedo. Naturalmente, frisa. “Os smartphones e os tablets passam por cima de todos os instintos naturais que as crianças têm para se mexerem, explorarem e interagirem”, disse à Sky News. “É importante que as famílias falem sobre tecnologia, quanto tempo deve ser utilizada e a partir de que ponto ela começa a interferir nas relações familiares, nas responsabilidades ou no sono.”
Tudo começa na família. O Restart criou, por isso, um programa específico para pais. São quatro dias seguidos fechados numa casa, pelo menos com mais um casal (máximo 5), para ficarem a perceber como funciona este tipo de dependência e desenharem um “plano de vida” para todos. Por detrás estão habitualmente problemas de relacionamento entre pais e filhos.
Nem sempre, porém, a família consegue desenvolver estratégias que acabem com a dependência das tecnologias. Para esses casos, o centro tem desde o início um programa de internamento que agora estendeu a adolescentes entre os 13 e os 17 anos. Uma espécie de campo de férias instalado no meio de um bosque, onde só se ouvem passarinhos.
O isolamento no campus Serenity Mountain (montanha da serenidade, à letra) faz parte do tratamento. Tem duas pequenas casas de madeira, cada uma com capacidade para oito pessoas, beliches nos quartos, sala de estar com piano, lareira e a hashtag #grow numa das parede, cozinha e cantina comunitárias, e campos de jogos ao ar livre.
Com a ajuda de uma equipa interdisciplinar, que inclui médicos e terapeutas, é nesse ambiente familiar e próximo da natureza que os adolescentes irão aprender a relacionar-se de maneira saudável com as tecnologias. Ao fim de 8 a 12 semanas, cada caso é reavaliado e, se for necessário, o internamento continua por mais 9 a 12 meses.
Os responsáveis do Restart já sabem que a avaliação da dependência tem de ser feita com alguma regularidade. Em 2015, inquiridos os antigos pacientes, concluíram que 93% dos jovens não conseguiam controlar o uso de tecnologias antes do tratamento; logo após o tratamento, essa percentagem desceu para 28 a 33 por cento; e, quatro anos depois, voltara a subir, para 33 a 44 por cento.