Há muito tempo se tem investigado a possibilidade de existir uma pílula contracetiva masculina. Não tem sido fácil encontrá-la, mas uma nova descoberta de uma equipa da Universidade de Aveiro veio agitar a ciência.
A solução pode estar num composto capaz de alterar as proteínas que conferem ao espermatozoide o poder de mobilidade.
Há alguns anos, a equipa liderada por Margarida Fardilha percebeu que existia um conjunto de proteínas responsáveis por conferir mobilidade ao espermatozoide. Desde daí, Margarida, Joana Vieira Silva e Maria João Freitas têm estudado a possibilidade de alterar essas proteínas de forma a, consequentemente, poderem modificar a mobilidade do gâmeta masculino.
Assim que percebeu que tinha encontrado uma maneira potencialmente eficaz, Margarida contactou John Howl, um investigador inglês da Universidade de Wolverhampton, que tinha descoberto uns peptídeos capazes de penetrar o espermatozoide.
Os resultados preliminares que surgiram desta pareceria mostram que funciona.
Uma opção cheia de vantagens
Apesar de a investigadora ficar mais entusiasmada com a aplicabilidade deste estudo em termos contracetivos, também revela que há possibilidade de ser um contributo para combater problemas de infertilidade.
No caso dos homens que tivessem espermatozoides com problemas de mobilidade, um composto da mesma família que este poderia aumentar o poder de mobilidade do gâmeta, tornado “a forma de conceber o mais natural possível”, esclarece a investigadora.
O processo tem, também, a vantagem de não afetar o sistema de controlo hormonal masculino. A pílula feminina, como é constituída por hormonas, acaba por influenciar não só o sistema reprodutor, como outros aspetos dependentes de hormonas. Mas o mesmo não acontece com este composto.
Como explica Magarida Fardilha, “a aplicação seria após a produção dos espermatozoides, portanto não interferiria em nada com o testículo e com a produção dos espermatozoides. A única coisa que iria acontecer é que, assim que saíam, paravam. Não se mexiam. Como não se mexiam, não conseguiriam chegar aos oócitos”.
Este composto tem ainda outro benefício. Os testes têm mostrado que o efeito é quase imediato. “Quando se adiciona este composto a um esperma saudável, em alguns minutos, os espermatozoides não se conseguem mexer”, explicou John Howl.
Para além disso, se o homem quisesse tornar-se fértil de novo, Margarida diz que a solução seria simples: “deixava de tomar e voltava tudo ao normal”. Outro aspeto que não se verifica na pílula feminina. Geralmente, é indicado que as mulheres parem de tomar a pílula semanas – e até meses – antes de tentarem engravidar.
Na maioria dos casais heterossexuais, é a mulher que se precavem tomando a contraceção. Esta é uma boa notícia para os casais em que a mulher não pode, por questões de saúde, tomar a pílula. Para além disso, existem algumas preocupações relativamente aos efeitos que as soluções hormonais podem ter a longo prazo, nomeadamente no que toca ao aumento da probabilidade de se vir a ter depressões.
A chegada da pílula ao mercado está dependente do interesse de uma empresa farmacêutica em continuar o estudo e dos resultados da aplicação do composto ao corpo humano. A parceria está à espera do registo da patente para, depois, perceber as propostas do mercado.
A equipa de Magarida Fardilha tem um novo projeto em mãos que pretende continuar a investigar estes compostos, de forma a melhorá-los.
(Artigo de Sara Santos Soares)