Manda o bom senso que nunca se juntem as palavras “revolucionário” e “cancro” na mesma frase, não vão os doentes rejubilar sem motivo. Sabendo isso de cor e salteado, a editora de Ciência The Telegraph não hesitou em fazê-lo no artigo que publicou sobre o estudo que Gareth Jenkins, da Escola Médica Universitária de Swansea, apresentou no British Science Festival, a decorrer naquela cidade do País de Gales, até sexta, 9.
Não admira. A análise de sangue testada pela equipa de Jenkins junto de 300 pessoas (saudáveis, com sintomas pré-cancerosos e com cancro no esófago) não só é capaz de detetar o cancro numa fase em que não há quaisquer sintomas como “adivinha” se alguém está pré-canceroso. A resposta está nas alterações em proteínas à superfície dos seus glóbulos vermelhos. Segundo o especialista em biomarcadores, as pessoas saudáveis têm tipicamente 5,2 glóbulos vermelhos alterados por milhão, enquanto os doentes com cancro no esófago rondam os 42,9 por milhão.
“A análise pode ser comparada a um detetor de fumo”, diz Jenkins “porque o detetor de fumo não deteta a presença de fogo nas nossas casas mas sim o fumo que ele provoca.”
Neste caso não se aplica o adágio “Não há fumo sem fogo”. Por isso, uma simples picadela num dedo pode revelar a doença em estado muito precoce, o que no cancro do esófago pode significar a sobrevivência do paciente. Na maioria das vezes, o cancro do esófago só dá sintomas quando já se encontra num estado muito avançado.
Depois de quatro anos a realizar testes sempre com o cancro do esófago na mira, os investigadores acreditam que irão encontrar resultados semelhantes nos restantes tipos de cancro. “É muito difícil pensar por que razão haveria de ser diferente”, confessa Jenkins. “Mas, mesmo para o cancro do esófago, precisamos de estudos em maior escala para disponibilizarmos a análise.”
Cinco anos é o prazo em que acreditam que isso venha a acontecer. Se tudo correr como esperado, a análise deverá custar 40 euros. Até lá, muita gente vai morrer de cancro do esófago por não ter sido possível detetá-lo precocemente. Após o diagnóstico, os pacientes vivem em média um ano e apenas 15% sobrevivem cinco anos. “Até agora, no cancro no esófago, não há biomarcadores que possamos utilizar”, nota João Olias, otorrinolaringologista com experiência em oncologia. “Era bom que aparecessem.”