A viagem está a ser preparada há quase dois meses, desde que a primeira caravana Famílias Como as Nossas regressou a Portugal com uma família de refugiados sírios a bordo. A passagem pelo campo de Opatovac, na fronteira da Sérvia com a Croácia, deixara a certeza de que valia a pena voltar ao terreno para fazer trabalho voluntário.
Nos últimos dois meses, sucederam-se, por isso, as reuniões e os contactos com ONG e autoridades de vários países europeus. A primeira hipótese – Lesbos – acabaria por ser posta de lado face à quantidade de voluntários que já se concentravam na ilha grega. O Plano B apontou, naturalmente, para a fronteira entre a Grécia e a Macedónia, por estes dias o primeiro grande obstáculo que os refugiados encontram pela frente.
As notícias que chegam dos campos de Indomeni, ainda na Grécia, e de Gevgelija, na Macedónia, mostram bem isso. Na página do Facebook “Forgotten Indomeni” há relatos, fotografias e vídeos arrepiantes.
Desde que a União Europeia decidiu que só entra na Macedónia quem vem da Síria, Iraque e Afeganistão, e que todos os outros refugiados são recambiados para a Grécia (onde poderão pedir asilo ou ser repatriados), concentram-se à porta desse campo milhares de pessoas. Não há qualquer ONG no terreno e os confrontos entre os refugiados e a polícia grega têm sido uma constante.
Mesmo assim, Bárbara Guevara, locutora da rádio M80 e membro da direção da Associação Famílias Como as Nossas, há de lá ir ver o que se passa. “Seremos os olhos da embaixada portuguesa na Grécia, que não tem ninguém no terreno”, diz. “Não nos vamos demitir do nosso compromisso de ajudar nos dois campos, mas enquanto as autoridades não nos derem o OK, não podemos sequer levar mantimentos para Indomeni.”
Será, então, no vizinho Gevgelija, também um campo de transição, mas já na Macedónia, onde estão a entrar (e sair) diariamente cinco mil pessoas, que Bárbara e os outros 16 voluntários vão encontrar-se com o bósnio Kemal Shkrijel, da ONG local NuN, para ajudar no que for preciso durante uma semana.
“Palhaços, ateus, enfermeiros, budistas, engenheiros químicos, católicos, psicólogos, muçulmanos, locutores…” É assim que o grupo se apresenta, prometendo que “cada um levará esperança à sua maneira e mostrará que é esta a pluralidade e a aceitação que espera os refugiados em Portugal”. Todos os voluntários irão ser distribuídos por turnos, sabendo de antemão que serão necessários sobretudo nos da noite. E as duas palhaças irão trabalhar com os Clowns Without Borders.
Em cada uma das malas que vão para o porão, os membros do grupo enfiaram 30 quilos de bens para entregar na Macedónia. Bárbara Guevara também encheu com pequenos brinquedos oito mochilas que os outros voluntários ajudarão a levar na cabine do avião. “Quando lá chegarmos, ainda vamos comprar comida para distribuir”, conta Bárbara, “porque levamos daqui uma bolsa de donativos boa.”
A partida desta Caravana da Esperança está marcada para as 9 da manhã de sábado, 5, Dia Internacional do Voluntário, e o regresso para as 3 da tarde de domingo, 13.