Daniel Adrião, líder do movimento Reiventar Portugal, insistiu esta segunda-feira na necessidade de realização de primárias para a eleição dos candidatos do PS às legislativas, mas a direção do partido não se mostra, de momento, recetiva a essa possibilidade. O crítico de António Costa pediu ao presidente socialista, Carlos César, que na reunião de sábado, 9, da Comissão Nacional o assunto fosse debatido, mas a resposta, que chegou esta quarta-feira ao e-mail de Daniel Adrião, não foi favorável.
No requerimento remetido a Carlos César, o dirigente “rosa” solicitava que o encontro do órgão máximo entre congressos, que decorrerá em Lisboa, deliberasse “sobre a convocatória de eleições primárias fechadas ou abertas para a escolha dos candidatos a titulares de cargos políticos de âmbito nacional” – neste caso concreto, deputados -, invocando a “pertinência” do pedido no sentido de tornar o PS “mais plural e aberto”. E até apontava como alternativa a marcação de uma reunião da Comissão Nacional dedicada exclusivamente a esse propósito.
Na resposta, à qual a VISÃO teve acesso, Carlos César, que preside à Comissão Nacional, afasta a introdução desse ponto na ordem de trabalhos de sábado, socorrendo-se do calendário. “Face à proximidade do ato eleitoral para o Parlamento Europeu não considero oportuna a inserção do ponto que sugere [Daniel Adrião], nem na última Comissão Política surgiu qualquer proposta concreta para esse efeito”, fundamenta o também líder parlamentar socialista.
Além disso, na mensagem, o presidente do PS desafia o próprio Daniel Adrião a avançar com a iniciativa de alteração à ordem de trabalhos, fazendo, no sábado, após a habitual intervenção inicial pública de António Costa, “chegar à mesa a proposta que refere”, que teria de ser votada pelos membros daquele órgão.
Em declarações à VISÃO, Daniel Adrião considera “pouco convincente” o argumento do timing, uma vez que, sublinha, “depois das europeias [marcadas para 26 de maio], o tempo até às legislativas [6 de outubro] também será relativamente curto”. “Não queria que o calendário servisse de pretexto para não se realizarem as primárias. É precisamente para que haja tempo que estamos a propor isto com sete meses de antecedência”, diz. De caminho, insinua que parece existir pouca vontade política da cúpula socialista para aplicar o método de eleição que foi introduzido nos estatutos no Congresso de maio do ano passado.
“Não faz sentido inscrever as primárias nos estatutos e deixá-las na gaveta. A atual direção aceitou a introdução de primárias e agora tem a obrigação de as implementar. Nós já queríamos que tivessem ocorrido para as europeias, mas enfim…”, observa, antes de realçar que a intenção do movimento que encabeça passa pela constituição de uma comissão com sete elementos para definir o regulamento das primárias, que teriam de ser conduzidas pelas várias federações distritais do partido e também pelas estruturas regionais dos Açores e da Madeira.
A VISÃO procurou obter esclarecimentos junto de Carlos César, mas até ao momento da publicação deste artigo tal não foi possível.