Está quase tudo dito sobre o dr. Mário Soares, a quem já chamei “o maior político português do séc. XX” (opinião que mantenho).
Liderou nos últimos tempos a Oposição democrática; fundou em 1973 o Partido Socialista; aderiu ao 25 de Abril de 1974; foi ministro dos Negócios Estrangeiros nos primeiros Governos Provisórios, qualidade em que abriu negociações para a Descolonização (que era inevitável) e estabeleceu relações diplomáticas de Portugal com todos os países do mundo; liderou o combate político contra o “gonçalvismo” no Verão Quente de 1975; ganhou as primeiras eleições livres, quer para a Assembleia Constituinte quer para a Assembleia da República; foi primeiro-ministro de três Governos Constitucionais (1976 a 1985); e foi durante uma década Presidente da República (1986-96). Manifestou-se sempre um homem tolerante, mantendo relações muito cordiais com todos os líderes da Oposição, com dirigentes sindicais e patronais, com agentes da cultura e professores universitários, com sacerdotes e bispos, etc. Foi essa tolerância e afabilidade para com todos que permitiu consolidar rapidamente a Democracia em Portugal.
Uma pequena história? Em Agosto de 1977, Soares era primeiro–ministro do I Governo Constitucional, morre o Cardeal Gonçalves Cerejeira, grande amigo de Salazar e apoiante do Estado Novo. Nas solenes exéquias na Sé de Lisboa, Mário Soares comparece de fato escuro e assiste a toda a missa. No fim, à saída, eu (líder do CDS, partido democrata-cristão) agradeço-lhe ter vindo à cerimónia. Resposta imediata dele: “Era o que faltava que não viesse. É assim que devem ser as relações entre a Igreja e o Estado: separação, claro, mas respeito mútuo. Não precisamos de nos hostilizar.”
E ali, porventura pela primeira vez, Mário Soares mostrou ser muito melhor do que Afonso Costa!