Pedro Nuno Santos é o pivô da geringonça – expressão com que o historiador Vasco Pulido Valente apelidou o Executivo do PS com o apoio do PCP, Bloco de Esquerda e Os Verdes e que Paulo Portas repetiu no Parlamento –, alcunha que não desdenha, pelo contrário: “Sempre achei que a esquerda tinha de trabalhar em conjunto e sempre lutei por isso. Assim, a democracia ficou mais rica.” Foi ele um dos principais negociadores dos acordos para formar Governo e é ele o interlocutor com os partidos de esquerda. Reuniões atrás de reuniões que não deixam tempo para mais nada. O que não o apoquenta assim tanto, já que nos 24 anos que leva de atividade partidária – começou na JS aos 14 – foram poucos os fins de semana inteiros que conseguiu desfrutar. Mas é por gosto que corre. “Não me lembro de alguma vez ter dito que queria ser astronauta ou bombeiro. Sempre quis intervir e fazer política”, conta.
O pastelão da cantina
Alguma influência terá saído do pai, ativista da Frente Eleitoral dos Comunistas, nos tempos do Processo Revolucionário em Curso (PREC), antes de se tornar empresário no setor da maquinaria industrial para calçado e deixar a política. Certo é que em casa, em São João da Madeira, no distrito de Aveiro, onde viveu até completar o ensino secundário, sempre se falou de política à mesa. A irmã, militante socialista, acompanhava as conversas, mas optou por um rumo profissional diferente e trabalha com o pai. O tema, quase invariável, nas refeições caseiras, transpôs-se para a cantina do Instituto Superior de Economia e Gestão, em Lisboa, onde se licenciou em Economia. “Tínhamos longas conversas e o Pedro falava tanto que demorava imeeeenso tempo a comer”, conta, a rir, João Rodrigues, um dos amigos com quem Pedro Nuno partilhou casa na capital nessa altura, e hoje é professor de economia na Universidade de Coimbra.
Se no secundário foi presidente da associação de estudantes da Escola Dr. Serafim Leite, em São João da Madeira, chegado ao ISEG, com 18 anos, não demorou muito tempo para intervir. Concorreu à direção da Associação de Estudantes, então dominada pela JSD, juntando um grupo bastante heterogéneo de pessoas que provinham tanto da esquerda como da direita. Já aí procurava unir esforços.
Com exceção de uma breve incursão pelo teatro, através da companhia que ajudou a fundar na faculdade, de nome A Capicua, e em que subiu aos palcos, como ator, uma vez, toda a vida de estudante era dedicada à política e às discussões económicas.
“Criámos uma tertúlia com umas 20 pessoas para falar de política económica numa perspetiva que não nos era ensinada no curso”, lembra José Gusmão, amigo desde esses tempos e atual dirigente do BE. Esse movimento, chamado Para Uma Economia Pós Autista, reunia-se na casa de algum dos membros ou no ISEG. “Discutíamos política em todas as escalas, desde a estudantil à europeia ou internacional”, nota João Rodrigues.