Alexis Tsipras, no centro de Atenas, está pendurada uma fotografia emoldurada de Che Guevara, a exalar uma nuvem de fumo de charuto. É um símbolo de fácil interpretação para aqueles que, na Europa, encaram o político esquerdista grego como um perigoso ideólogo que ameaça arrastar o país para fora do euro e levar o “dracmagedão” não só à Grécia mas à União Europeia (UE).
A revista Economist classificou François Hollande como o “homem mais perigoso da Europa”, merecerá Tsipras o mesmo título? A demonização diverte este calmo engenheiro civil de 37 anos que diz ser apenas realista. “A Grécia foi uma experiência europeia e internacional, e os gregos foram as cobaias”, afirma. “Nos últimos dois anos, sofremos uma catástrofe social.
Um em cada dois jovens gregos não só está desempregado como nem sequer pode sonhar com um futuro melhor. O país já não exporta azeite, laranjas, queijo e azeitonas. Exporta jovens cientistas. É uma sangria que tem de parar.”Até há poucas semanas, Tsipras era um obscuro político da oposição, mas agora está a enervar os poderes na UE. Porque ele – e a sua Coligação de Esquerda Radical, Syriza – pode conseguir lugares suficientes no Parlamento, a 17 de junho, para formar um Governo, sozinho ou em aliança.
As eleições de 6 de maio conduziram a um impasse, sem que nenhum partido – nem mesmo os dois principais – fosse capaz de formar uma coligação. Mas a surpresa foi o Syriza, que apareceu no segundo lugar, mais do que triplicando o número de votos obtidos em 2009. O feito constituiu um golpe não só para a esclerosada classe política mas também para a política de austeridade imposta ao país pela UE – ou, como muitos gregos preferem ver, pela Alemanha e a sua chanceler, Angela Merkel. Como dizia um slogan do Syriza, “Eles decidiram sem nós. Seguimos em frente sem eles”.Há dois anos que Tsipras se mantém fiel aos seus princípios, desde que a UE resgatou a Grécia pela primeira vez, em 2010. Mas os gregos só acolheram a sua mensagem nas eleições de maio. Nessa altura, o país quase perdera a paciência com as subidas de impostos e os cortes nos salários e pensões como condição para a injeção de fundos de que a Grécia precisava para cumprir com os seus credores. Os gregos estavam então furiosos por ouvir dos credores internacionais que não estavam a fazer o suficiente para sair do buraco fiscal. Os protestos aumentaram e não acabaram. O Governo do PASOK do primeiro-ministro George Papandreou, herdeiro de uma família política com história, demitiu-se. Um Governo de coligação liderado por um experiente governador de banco central, Lucas Papademos – aprovado pela UE – não conseguiu acalmar o povo grego.No meio da agitação, Tsipras realizou uma profunda e curiosa metamorfose, transformando-se do líder de uma coligação de esquerda radical num porta-estandarte do populismo antirresgate e antiausteridade do centro esquerda. “É um paradoxo pensar que a Grécia pode prosseguir no euro, se continuarem a ser aplicadas as políticas de austeridade”, diz ele. “Estas políticas foram o remédio errado para a crise. Quando temos um doente e lhe damos um medicamento que só o deixa pior, não é lógico dar-lhe uma dose maior do mesmo medicamento. Se continuarmos a tomar este medicamento de austeridade – e em especial numa dose mais elevada – então a Grécia será obrigada a sair do euro. E quando a Grécia sair, toda a Zona Euro vai abanar.”
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