As dezenas de fotografias e vídeos a circular na Internet são impressionantes e desaconselhados a pessoas sensíveis: mostram bebés mortos, com espuma na boca, corpos de crianças e adultos alinhados e cobertos por lençóis brancos, em longas filas.
Que aconteceu alguma coisa mortífera nos subúrbios de Damasco, na quarta-feira, não há dúvidas. E não foi um bombardeamento com armas convencionais, uma vez que nenhuma das vítimas tem sinais de ferimentos.
Mas, um dia depois, há mais perguntas que respostas. Os ativistas ligados à oposição síria falam esta quinta-feira em mais de mil mortos, vítimas de um ataque com armas químicas que, a confirmar-se, seria uma ofensiva sem precedentes, mesmo na história de confrontos violentos na Síria. Mas a confirmação será sempre difícil: os funerais em massa começaram poucas horas depois das mortes e sem acesso a observadores independentes.
Esta não é a primeira vez que os ativistas alegam o uso de armas químicas pelas forças do Presidente Bashar al-Assad. Recorda a CNN que desde o início da revolta na Síria, em marco de 2011, o uso de gás sarin foi questionado pelos rebeldes, com vários sírios a relatarem tonturas e sufocamento, convulsões e dificuldades respiratórias, consistentes com o envenenamento com sarin.
Outros ativistas da oposição defenderam que, em dezembro do ano passado, foi usado, em bombardeamentos na cidade de Homs, o “Agente 15”, conhecido também como “BZ”, que afeta o sistema nervoso central e periférico.
As forças governamentais sempre negaram o uso de armas químicos e os alegados ataques deste género nunca puderem ser confirmados. Já este ano, os Estados Unidos anunciaram não ter encontrado “provas credíveis que corroborem ou confirmem o uso de armas químicas” em Homs.
O relato de um jornalista francês,Jean-Philippe Remy, do jornal Le Monde, que passou semanas em Jobar, uma região controlada pela oposição nos subúrbios de Damasco, dá força às dúvidas: “Não havia cheiro, nem fumo, nem mesmo um silvo que indicasse a libertação de um gás tóxico”, escreveu. E, no entanto, os sintomas estavam à vista: “Tosse violenta, olhos a arder, pupilas diminuídas, visão turva, dificuldades respiratórias, por vezes extrema. Começam a vomitar ou perdem consciência”.
Também vários especialistas independentes que têm estado a analisar as imagens de quarta-feira não conseguem afirmar com garantias a causa da morte. É o caso de Gwyn Winfield, diretor editorial da revista CBRNe World, especializada em casos de uso de armas químicas, biológicas ou nucleares, que considera que os efeitos podem ser tanto originados num agente de controlo de motins como num agente de guerra química.
Outros analistas especulam que algum local de armazenamento de agentes químicos possa ter sido atingido durante os ataques aéreos à periferia de Damasco, mas, nota a CNN, isso não explicaria o número de bairros onde foram registadas vítimas, a vários quilómetros de distância.
Mas há ainda um outro fator: o ‘timing’. Não muito longe do tenebroso cenário de quarta-feira, uma equipa de peritos das Nações Unidas começava precisamente uma investigação sobre o alegado uso de armas químicas. Embora, refira-se, os inspetores só tivessem acesso aos três locais onde alegadamente teriam sido usadas essas armas no passado.