Antes de passarmos à história de Mike Hookem, acusado pelo seu correligionário Steven Woolfe de o ter agredido ao ponto de ter ido parar inconsciente ao hospital, convém pôr alguns factos em perspetiva.
1º. facto – Steven Woolfe, eurodeputado pelo Partido da Independência do Reino Unido (Ukip), apontado como um dos favoritos à liderança do partido, desmaiou, na quinta-feira, 6, no edifício do Parlamento Europeu, em Estrassburgo. Foi levado inconsciente para o hospital daquela cidade francesa. Apesar dos ferimentos, uma TAC não revelou qualquer coágulo de sangue no cérebro e Woolfe já está a recuperar.
2º. facto – O desmaio ocorreu após Woolfe e outro colega do partido, Mike Hookem, terem abandonado a sala de reuniões. onde se debatia a crise de liderança naquela formação política de extrema direita.
3º. facto – Segundo testemunhas citadas pela imprensa britânica, os dois homens terão debatido tão acaloradamente os seus pontos de vista que tiveram de abandonar a sala e continuaram a disputa à porta.
4º. facto – Minutos depois da discussão, Woolfe caiu quando se deslocava para participar em votações, no edifício do Parlamento Europeu, e teve de ser hospitalizado. Em declarações à imprensa, o líder interino do partido afirmou que a situação do eurodeputado hospitalizado seria “grave” e outras fontes citadas pelo The Independent falaram mesmo em “perigo de vida”.
5º. facto – Woolfe acusa o colega de partido de o ter agredido. “O Mike estava, obviamente, muito furioso e perdeu a cabeça”. A alegada vítima fala em socos e bofetadas.
6º. facto – Mike Hookem quebrou, entretanto, o silêncio para se defender e desmentiu aos microfones da BBC a acusação de ter agredido o colega de partido. Disse que, durante a discussão, Woolfe despiu o casaco e o desafiou a sair da sala de reuniões para resolver o assunto no exterior. Admite a intensiade da troca de palavra e que terá havido alguns encontrões entre ambos. Nada de bofetadas e socos.
Chegados a este ponto, apresentemos Mike Hookem, de 62 anos. O eurodeputado e porta-voz do Ukip para a Defesa cresceu em Hull,norte de Inglaterra, mais concretamente na comunidade piscatória daquela cidade onde o pai trabalhou como estivador nas docas.
Aos 15 anos, Mike decidiu que não iria mais à escola. Nos dois anos seguintes teve vários empregos e acabou por se alistar na Força Aérea, quando já tinha 17.
Andou por lá durante quatro anos, após os quais trabalhou na área comercial. Aparentemente, não se deu bem na vida civil e voltou a alistar-se. Desta vez nos Royal Engineers, uma unidade de engenharia do Exército, onde passou os seus 9 anos seguintes.
Desiludido com o Partido Trabalhista, no qual sempre havia votado, por este ter traído o “povo trabalhador”, aderiu ao Ukip, em 2008. Na estrutura local de Hull foi subindo na hierarquia do partido, tendo chegou a líder da comissão regional. Em 2010, saiu-lhe gorada uma tentativa de chegar ao Parlamento britânico.
Em 2014 foi eleito deputado ao Parlamento Europeu pelo círculo de Yorkshire e Humber. Desde o início do seu mandatos que se opõe a uma estrutura de defesa europeia (um “exército europeu”, como ele diz). Isso e o seu passado militar levaram a que o partido o nomeasse porta-voz para a Defesa.
Depois do referendo à saída do Reino Unido da União Europeia ter dado a vitória aos eurocéticos, o Ukip, um partido radicalmente anti-europeista entrou numa crise de liderança na sequência da demissão do seu carismático líder Nigel Farage. Na corrida à sucessão, Hookem apoiou a candidatura do controverso eurodeputado Bill Etheridge.
Mike Hookem é um homem dado a controvérsias e a verborreia populista, sobretudo no que concerne à imigração. No rescaldo dos atentados de Bruxelas, em março deste ano, declarou que os ataques terroristas são a prova de que “a livre circulação permitida por Schengen e o controlo laxista das fronteiras são uma ameaça à nossa segurança”. Esqueceu-se de referir que os principais autores dos atentados eram muçulmanos, mas nados e criados no centro da Europa.
No ano passado, queixou-se de um “migrante” lhe ter apontado uma pistola e o ameaçado no porto de Dunquerque (norte de França). Mais tarde, a polícia desmenti-lo-ia: quem lhe apontara a arma fora um gangster britânico. Mas o alarido estava feito e o soundbite de que há por aí imigrantes a ameaçar eurodeputados com armas de fogo já havia passado para a opinião pública.