“Tenta a sorte que o azar é certo”. Raramente um lema fez tanto sentido como o da Torcida Jovem, uma das claques do pequeno clube do Oeste do estado de Santa Catarina. Era isso que a Chapecoense procurava. Esta quinta-feira, frente aos colombianos do Atlético Nacional, o clube tentava chegar ao seu primeiro título internacional. Numa história tão curta de vida talvez fosse, mais do que sorte, um milagre.
Mas a Chapecoense parecia talhada para isso. Criada em 1973, na pequena – para os padrões do país – cidade de Chapecó, a mais de 600 quilómetros de Florianópolis, a capital do estado de Santa Catarina, a ACF apareceu para tentar despertar os cerca de 200 mil habitantes do adormecimento futebolístico de que padeciam os dois clubes outrora mais representativos, o Independente e o Atlético Chapecó. E, de início, aquilo foi um ver se te avias. Em 1977, com apenas quatro anos de vida, alcançou o primeiro de cinco títulos estaduais. Clubes como o Avaí, o Joinville, Figueirense e Criciúma, os mais representativos do estado até então, tinham arranjado um concorrente à altura. Mas o segundo título demorou a chegar e com ele não vieram boas notícias. Nesse ano de 1996 o clube entra numa derrapagem financeira que durou até 2005, quando as portas estiveram quase a fechar por causa de tantas dívidas. Mas o lema da claque voltou a fazer sentido e a sorte, neste caso um grupo de empresários da cidade, veio em socorro da Chapecoense e o rumo virou. Daí para cá, sim, tudo parecia correr como sonhado. Em 2007 chegou novo título estadual, em 2012 a série C, no ano seguinte a série B e, finalmente, a chegada ao Brasileirão. A culminar esse 2014, de delírio para as gentes de Chapecó, o clube concluiu também a nova menina dos olhos, o novíssimo Centro de Treinos.
O clube, que até aí treinava em campos emprestados, passou a ter uma academia com 83 mil metros quadrados, três campos oficiais e um adicional para as camadas jovens, cinco balneários, sala de massagens, fisioterapia… enfim, tudo o que a maioria dos grandes também tem. A cidade não podia estar mais feliz com o Verdão e as médias de 7,6 mil adeptos por jogo – a melhor entre todos os clubes do estado de Santa Catarina – eram prova disso.
A estreia na série A foi tão fantástica que o clube conseguiu uma vaga na Copa Sul-Americana e só foi eliminado nos quartos-de-final pelo poderoso River Plate. Em 2016, a Chapecoense volta a surpreender na mesma competição e atinge a final depois de bater o San Lorenzo, o clube argentino cujo mais famoso adepto é o Papa Francisco, nas meias-finais.
Agora era hora de voltar a fazer história mas o céu foi o limite. Depois da tragédia que vitimou 76 pessoas na viagem de avião que transportava a comitiva para a Colômbia, para a primeira mão da final da Copa Sul-Americana, o Atlético Nacional já solicitou oficialmente à Conmebol que a Chapecoense seja considerada campeã da competição. O futebol é capaz de enormes provas de grandeza.