Em outubro de 2014, Rui Bento deixava a Apple, em Londres, para se instalar em Lisboa. Há cinco que andava fora do País, depois de fazer o curso de engenharia informática no Instituto Superior Técnico. Ainda não tinha 30 anos quando assumiu o cargo de diretor-geral da Uber em Portugal.
A empresa foi crescendo por cá e, com ela, a contestação dos taxistas. O ponto de divergência é sempre o mesmo: a Uber é uma empresa de transportes como os táxis e, portanto, precisa de alvarás específicos para operar ou é simplesmente uma plataforma eletrónica que liga motoristas (supostamente licenciados, até porque muitos deles estão ligados a empresas de turismo e de aluguer de carros com condutor) a clientes?
No pico da contestação, em 2016, o País assistiu a grandes manifestações de taxistas e aos confrontos destes com os motoristas da Uber. Que continuaram a trabalhar, mesmo depois de um tribunal declarar ilegal a atividade da empresa.
Hoje os motoristas da Uber ativos, que fizeram viagens na última semana, são cerca de 3 mil e os downloads da aplicação, em Portugal, já ultrapassaram um milhão. A contestação dos taxistas acalmou e a empresa já se sente à vontade para abrir as suas portas aos jornalistas, mostrando os novos escritórios, ao Saldanha, em Lisboa, onde trabalham 40 pessoas, divididas entre as áreas das operações, do marketing e do atendimento aos clientes.
Mas isso não torna a atividade dos motoristas mais legal, pois estes continuam a ser abordados pela PSP e autuados com multas que começam nos cinco mil euros. A legislação que altera o enquadramento destas plataformas como a Uber ou a Cabify está parada no Parlamento, à espera de ver a luz do dia.
Enquanto isso, multiplicam-se, nos jornais, os anúncios a pedir motoristas para a Uber e a startup vai alargando os seus serviços. No ano passado, chegaram ao Algarve, mas só operavam entre Faro e Albufeira. Até agora, com a operação a ser estendida de Sagres a Vila Real de Santo António.
Além disso, à semelhança do que fez durante a Web Summit, em Lisboa, vai voltar a recuperar o serviço Uber Pool até ao final do mês de julho, com especial incidência nos festivais de verão. A ideia é que os clientes com percursos semelhantes partilhem o mesmo carro, poupando cerca de 25% do preço da corrida.
Ao contrário de Travis Kalanick, fundador e CEO da empresa até à semana passada, Rui Bento mede bem as palavras antes que estas lhe saiam da boca. Recusa qualquer “preconceito” contra os taxistas, dizendo que são muito benvindos à Uber (em cidades como Berlim já existe o serviço Uber Táxi, em que se pode mesmo chamar um táxi, caracterizado como tal, através da aplicação).
E quando se lhe pergunta se houve, no nosso País, algum boicote à plataforma – à semelhança do que sucedeu nos Estados Unidos como resposta à proximidade entre Kalanick e Donald Trump – responde apenas: “Em Portugal a Uber tem crescido de forma sólida”.
Finalmente, não se escusa a comentar o afastamento de Kalanick, que deixou de ser presidente da empresa que fundou, alegadamente empurrado porta fora pelos acionistas, devido ao seu mau comportamento e aos maus resultados da tecnológica. “Não olhamos de ânimo leve para a saída de Travis Kalanick, mas esta mostra como ele coloca a Uber em primeiro lugar para que se possa começar um novo capítulo”, conclui Rui Bento.