Há estudantes, há geeks, há profissionais da tecnologia e das telecomunicações e há veteranos do tempo em que os telemóveis pesavam tanto como um tijolo. Há de tudo em Barcelona, em mais uma edição do Mobile World Congress (MWC), que este ano reúne 2 100 empresas ávidas em mostrar aquilo que fazem de melhor no recinto da Feira da capital catalã.
Este ano, a estrela foi Mark Zuckerberg, que no domingo – um dia antes do início do Congresso – protagonizou uma entrada “arrepiante” na sala onde decorria a apresentação mundial da nova câmara Gear 360 (panorâmica) da Samsung, instalada nos óculos de realidade virtual da marca sul coreana (construídos em parceira com a empresa Oculus, do criador do Facebook). Convidados a por os óculos para participar na experiência, os jornalistas, mergulhados num mundo irreal, não se aperceberam da chegada nada virtual de um sorridente Zuckerberg que, com a sua inevitável t-shirt cinzenta, desfilou pela sala até chegar ao palco. As imagens do evento tornaram-se virais, as interrogações sobre o futuro “assustador” que a tecnologia nos promete sucederam-se, e a Samsung conseguiu, com isto, uma cobertura mediática invejável, que teve o efeito de por toda a gente a discutir este estranho novo mundo virtual.
Enquanto o debate prosseguia, nos media e nas redes sociais, Zuckerberg participou numa conferência no primeiro dia do congresso de Barcelona para defender um mundo onde cada vez mais pessoas possam ter “acesso à Internet”, ainda antes do avanço da indústria para a próxima etapa: o 5G.
Mas se o fundador do Facebook foi a estrela do primeiro dia do evento, há outras estrelas a lutar por um lugar no firmamento móvel de Barcelona, no âmbito do congresso que decorre até à próxima quinta-feira, 25. É impossível percorrer os longos e extenuantes corredores dos oito pavilhões da Feira sem parar num dos muitos expositores e experimentar uns óculos de realidade virtual. Dir-se-ía que os há para todos os gostos. De pé ou sentados, com ou sem som stereo, os visitantes podem surfar e “apanhar” com uma onda em cima da cabeça no mar da GoPro, subir e descer uma íngreme montanha russa de faz de conta criada pela Samsung, mergulhar nos stressantes jogos de vídeo inventados pela HLC, atirar-se para um precipício desenhado pela Intel….. basta experimentar um dos muitos pares de óculos disponíveis para demonstração destas marcas. E mais? Pode visitar cidades que ainda não conhece, espreitar para um quarto de hotel antes de fazer a reserva, experimentar o carro que vai comprar sem precisar de ir ao stand… Alguns destes dispositivos estão já no mercado, outros prometem chegar no primeiro semestre do ano. A consultora Superdata estima que só em 2016 serão vendidos 11 milhões de óculos virtuais no mundo.
Enquanto uns mergulham na realidade virtual – e tiram selfies, claro… – as outras estrelas do MWC captam as atenções do restante público. Os smartwatchs (relógios inteligentes) e as aplicações para a indústria automóvel são as preferidas. A Volvo, um dos construtores automóveis que este ano marcaram presença num congresso tradicionalmente reservado às TI, quer ser a primeira a substituir a chave do carro por uma chave virtual que abre as portas e liga a ignição, através de uma aplicação no telemóvel. E ainda há tempo para experimentar as novas gamas de smartphones da Samsung – S7 e S7 Edge – e da LG – G5 -, ambas apresentadas na véspera do início do Congresso, num bem sucedido esforço de captação das atenções mediáticas. Mérito dos fabricantes sul coreanos num evento onde a concorrente norte-americana Apple não está presente.
Na edição deste ano, fala-se muito em wearables, apps e dispositivos inteligentes que fazem parte da incipiente Internet das Coisas, mas fala-se também de outras novidades digitais como aquela que nos permite trocar o velhinho cartão SIM por um eSIM. As maiores operadoras móveis aliaram-se aos grandes fabricantes e prometem disponibilizar a nova tecnologia muito em breve, tornando possível ligar telemóveis, tablets e outros dispositivos a um único contrato com um único fornecedor do serviço.
Anéis e lápis virtuais que escrevem nas paredes
O mundo parece um lugar já muito conectado com os 7 300 milhões de telemóveis existentes, mas em 2020 serão 50 mil milhões os dispositivos (telemóveis e outros aparelhos) ligados à Internet – as projeções são da norte-americana Intel. As possibilidades são infinitas e a imaginação desafia os limites da tecnologia. Nesta edição do MWC, a japonesa Fujitsu mostrou um anel que, colocado no dedo, “digitaliza” mensagens num ecrã que são depois enviadas por telemóvel, e um lápis virtual que, com um toque, “passa” o conteúdo (imagens, etc.) do visor do telemóvel para uma mesa ou uma parede de uma sala, tornando mais fácil e animada a partilha de informação digital, por exemplo, num reunião de trabalho.
Além destas novidades, ainda em fase experimental, a Fujitsu está a desenvolver outras soluções para resolver os problemas das empresas de vários setores de atividade. O grupo tem os seus laboratórios de pesquisa e inovação no Japão, China, EUA, Reino Unido e Espanha, cada um com ideias próprias e projetos definidos, como explicou à VISÃO o vice-presidente executivo dos laboratórios europeus, Adel Rouz. Em Espanha, onde está localizada a unidade mais recente do grupo, existe uma parceria com um hospital público para procurar soluções que possam auxiliar os médicos no tratamento de doenças mentais, e uma outra com a região da Andaluzia para a área da proteção do património histórico.
Mas a inovação da Fujitsu faz-se em muitas outras áreas. “Agir localmente, pensar globalmente” é o lema da Fujitsu enunciado por Adel Rouz. Nos laboratórios espalhados por três continentes, fazem-se progressos em projetos tão diferentes como o tratamento e preservação de documentos históricos ou a análise de dados meteorológicos que permitam prevenir os efeitos de fenómenos climáticos extremos como cheias, secas ou mesmo tsunamis. No Japão, a Fujitsu está a desenvolver um projeto que consiste na colocação e monitorização de sensores no fundo do oceano Pacífico para dar o alerta em caso de perigo de tsunami. Outras soluções – uma carrinha de trabalhos de manutenção que, ligada à Internet, funciona como um escritório sobre rodas, uma banda que mede os sinais vitais de um condutor ou de um trabalhador da construção, aferindo o seu estado de cansaço, ou ainda um dispositivo que monitoriza a fertilidade das vacas em explorações agrícolas – são também saídas dos laboratórios de inovação da Fujitsu, onde são investidos, anualmente, cerca de 2,5 mil milhões de dólares – o correspondente a 6,25% das vendas anuais que, em 2015, atingiram 40 mil milhões de dólares.