Acabaram as pombas e os coelhos a saírem da cartola. No mundo da magia agora é a vez dos mentalistas e da transmissão de pensamento. “Arte que é arte tem de adaptar-se ao tempo em que é criada, por isso não podemos continuar a tirar coelhos da cartola. Na altura fazia sentido porque se usava cartola. Porque é que os mágicos vestiam casaca? Porque era o traje mais fashion que se podia ter em palco. Não faz sentido continuarmos presos a esses estereótipos”, diz Luís de Matos, um dos mais reputados mágicos portugueses. Os números apresentados nos espetáculos já não são só fazer aparecer e desaparecer, transformar, levitar ou multiplicar. São a reinterpretação de tudo isso, continuando a usar truques, como fios, espelhos ou alçapões, mas que sozinhos não valem nada.
O que se vai passar por estes dias, entre 10 e 12 de junho, em três salas de cinema do país, será uma experiência minimalista e intensa, com um pequeno espetáculo de magia a anteceder um filme (bilhete €13). Luís de Matos selecionou “aqueles que podiam ser versões reais dos ‘cromos’ que aparecem no filme”.
Mestres da Ilusão 2, realizado por Jon M. Chu, volta a reunir o “gang” de ilusionistas-ladrões, à laia de Robin dos Bosques. Um ano após enganarem o FBI e ganharem a admiração do público, regressam com um novo espetáculo que tem como objetivo expor as práticas pouco éticas de um magnata da tecnologia.
O mágico português já viu a sequela e considera “francamente melhor” do que o primeiro, “nós mágicos saímos muito bem vistos deste filme”. Os quatro ilusionistas convidados para os espetáculos em Portugal, mais do que serem as promessas do ilusionismo são exemplo de algumas tendências que não existiam há 10 ou 15 anos.
Hyunjoon Kim apresenta parte do set com que conquistou o terceiro lugar no Campeonato Mundial de Magia, em 2012. Através de números feitos com cartas e bolas representa a manipulação, uma vaga que surgiu na Coreia do Sul, ou seja, “quando todos os efeitos e ilusões são criados com recurso única e exclusivamente à destreza manual. O equivalente a cantar à capela na música”, explica Luís de Matos.
A dupla austríaca Thommy Ten e Amélie Van Tass, campeões mundiais, em 2015, “recuperam neste século algo que no século XVIII era a face mais visível do que fazemos: a transmissão de pensamento. Sem palavras, em condições quase de laboratório, conseguem à distância saber o que cada um deles está a pensar”. Da Holanda vem o mentalista Jan Reinder cujo estilo, como descreve Luís de Matos, “é uma manifestação mais física e visual, mais moderna e contemporânea”, ou não tivesse ele um programa de televisão na Fox holandesa.