A Tilray, empresa canadiana produtora de canábis, já fez a primeira colheita de plantas THC (tetrahidrocanabinol) em Portugal e espera começar a exportar a partir da fábrica em Cantanhede para países da União Europeia a partir de março ou abril do ano que vem.
“Vamos começar a produzir na UE para a UE, para uso farmacêutico. Para a Alemanha, Polónia, República Checa, Croácia, Chipre ou Itália. É uma grande oportunidade,” disse esta quinta-feira o CEO da empresa, Brendan Kennedy, durante a Web Summit em Lisboa.
A Tilray tem em curso um investimento de 20 milhões de euros em Cantanhede até 2020, valor que o responsável disse hoje que poderá vir a aumentar. Em agosto a empresa anunciou a contratação de 100 pessoas para a unidade de produção portuguesa,
Kennedy recordou ainda o processo de seleção de Cantanhede para a instalação da unidade em 2015, numa altura em que todas as fábricas estavam no Canadá, realçando a boa receção que teve por parte dos reguladores em Portugal, a que se juntou a questão climática e uma força de trabalho qualificada.
Para o CEO o mercado de produção de produtos derivados da canábis está apenas no início e deverá levar ao surgimento de uma indústria avaliada em 150 a 200 mil milhões de dólares “do dia para a noite”. O tema é capa da VISÃO desta semana.
Depois do Uruguai, o Canadá, de onde é originária a Tilray, foi o segundo país a legalizar o uso de marijuana para fins recreativos. Kennedy espera que o movimento de liberalização se amplie nos próximos anos, incluindo nos EUA, onde “dentro de um ou dois anos vamos ver muitos estados a legalizar”.
Com essa liberalização, também o leque de utilizações deverá expandir-se, antecipa. “Muitos não fumarão, mas haverá gente a beber, a consumir na forma de drageias. Vai haver diferentes produtos para diferentes necessidades, para uma saída numa sexta-feira à noite, ou ao domingo à noite para dormir,” exemplificou, numa altura em que empresas de bebidas como a multinacional Coca-Cola equacionam entrar neste mercado.
O responsável respondeu ainda a considerações feitas por analistas, que consideram que a evolução do preço das ações da Tilray (ontem dispararam 30% e desde a entrada em bolsa acumulam ganhos superiores a 500%) é irracional e não tem justificação, devendo-se à “ganância” dos investidores.
“É uma oportunidade global,” argumentou Kennedy. “É uma mudança de paradigma para 11 países em cinco continentes,” disse numa referência aos mercados onde a empresa está presente com a venda de produtos para fins terapêuticos.