É o Mégane da nova geração e é 100% elétrico. Atenção que não vem substituir o atual Mégane. Até porque o E-Tech Electric não está disponível com motores térmicos. É exclusivamente elétrico porque foi criado sobre uma plataforma desenvolvida apenas para carros elétricos. Uma plataforma da Aliança (Renault, Nissan e Mitsubishi), que será utilizada também por outros carros, incluindo o Nissan Arya e um novo SUV da Renault.

Mas voltemos ao Mégane E-Tech. As diferenças para os Mégane anteriores são tantas que até se torna difícil tratá-los pelo mesmo nome. Segundo a Renault, o nome foi mantido porque é um modelo muito conhecido, que se associa à ideia de familiar compacto. Mas o E-Tech corta de forma evidente com o passado. A começar pelo design crossover, onde as enormes rodas (jantes de 20 polegadas) criam uma ilusão ótica. Até pode parecer um SUV médio, mas não é. Tem apenas 1,5 metros de altura e 4,2 metros de comprimento. Ou seja, por fora até é mais pequeno que o Mégane que já conhecíamos. Aliás, fica mais próximo, em termos de volumetria e formato, do Captur. Mas, como foi criado de raiz para ser 100% elétrico, o espaço a bordo é um pouco melhor que no Mégane, sobretudo no que concerne ao espaço para as pernas dos passageiros que vão no banco de trás. Graças à nova plataforma, praticamente todos os subsistemas mecânicos e eletrónicos estão concentrados na frente, por baixo do capô (não, não há funk), o que permitiu aos designers libertarem-se de restrições ao criarem a cabine. Por exemplo, como não é necessário esconder sistemas na coluna central, entre condutor e passageiro, todo este espaço foi aproveitado para criar zonas amplas de arrumação. Até porque como não há caixa de velocidades, a Renault colocou o seletor D/R/P (Drive, marcha atrás e Park) na coluna de direção.
No que concerne ao espaço, há ainda que destacar a mala generosa q.b.. Mas, pela negativa, não é preciso ser muito alto para se sentir a cabeça a roçar no tejadilho quando se vai sentado no banco de trás.
Vídeo feito em direto via rede móvel com as primeiras impressões
Google a bordo
A tendência para equipar carros com ecrãs cada vez maiores é evidente no Mégane E-Tech. O ecrã central é enorme e complementa um também muito generoso painel de instrumentos digital. A Renault é outra marca que optou – e bem, na nossa opinião – pelos Google Automative Services. Na prática, isto significa que a interface do sistema de infoentretenimento tem muito de Android. Com direito aos serviços Google a que estamos habituados nos smartphones, como navegação com trânsito em tempo real e apps de streaming como o Spotiy. E podemos instalar muitas mais graças ao acesso à loja de apps certificadas para serem usadas em carros da Google. Uma das vantagens é a integração do Assistente Google. O que significa que podemos dizer “OK Google” e iniciar uma conversa com a IA do gigante tecnológico. Seja para pedir uma recomendação para jantar, descobrir informações sobre a zona onde passamos ou marcar uma reunião na agenda. Tudo sem tirar as mãos do volante. E como está integrado no carro, faz muito mais que o que conhecemos do Android Auto ou do Apple Carplay: podemos dar instruções de viva voz para controlar sistemas do carro, como a temperatura do ar condicionado. O ecrã generoso torna a interface tátil do sistema Google mais fácil de utilizar que, por exemplo, nos Volvo, que também usam o mesmo sistema operativo.
O carregador em fios está posicionado por baixo do ecrã central Espelho com ecrã ligado a uma câmara traseira
O sistema responde rapidamente e gostamos muito da forma como está integrado com o carro. Por exemplo, podemos planear rotas incluindo os carregamentos, informação que é usada para pré-condicionar a bateria de modo a garantir maior velocidade de carregamento – já lá vamos.
No que ao infoentretenimento diz respeito, não nos parece que o Mégane E-Tech tenha concorrência à altura no segmento. Aliás, mesmo poucos em segmentos superiores oferecem uma experiência tão boa de utilização do ‘computador de bordo’. Relativamente ao carro que a própria Renault aponta como concorrente direto, o Volkwagen ID.3, o sistema de infoentrenimento do Mégane sai claramente vitorioso.
Naturalmente, este E-Tech é compatível com a app My Renault para acesso e controlo remoto de várias funcionalidades, como gestão da carga ou planeamento de viagens. No entanto, não há integração direta desta app com os serviços Google. Ou seja, não é, por exemplo, possível programar uma viagem no smartphone via Assistente Google, embora um dos responsáveis da Renault presentes no evento tenha dado a entender que essa é uma funcionalidade planeada para próximas versões.
Ainda no que diz respeito à interface de utilização, considerámos que os designers e engenheiros da Renault poderiam ter feito um melhor trabalho no que diz respeito aos comandos físicos. Há, simplesmente, demasiados botões e manetes (quatro em redor do volante). A vantagem é que há botões físicos diretos para tudo o que importa, mas criou-se uma confusão que, na nossa opinião, é desnecessária – outras marcas provam que é possível ter as mesmas funções com muito menos controlos físiscos.
Agarrado à estrada
O test drive decorreu em redor de Málaga e Marbella, onde usámos autoestradas e estradas de montanha curvilíneas, daquelas que fazem a delícias de quem gosta de conduzir de modo mais dinâmico. E, confessamos, fomos surpreendidos pelo comportamento do Mégane. Não estávamos à espera de um carro tão ‘agarrado’ à estrada, tão divertido de conduzir. O volante é muito direto (mesmo) e o carro tem um comportamento equilibrado e previsível. A subir e em modo Sport, notámos alguma perda de tração nas rodas da frente em acelerações mais fortes – afinal, são mais de 200 cavalos – mas nada de grave. E os técnicos da Renault disseram-nos que ainda iriam melhorar o controlo de tração antes de o carro chegar ao mercado. Aliás, umas das novidades (para a Renault) é a capacidade de atualização remota do firmware, o que permitirá otimizar algumas funcionalidades ao longo da vida do automóvel.

Eficiência
Naturalmente, um único test drive não é suficiente para tirar conclusões definitivas. Mas foi suficiente para se perceber que, de facto, é possível fazer cerca 400 km de autonomia entre carregamentos com uma condução cuidada. Na verdade, ficámos com a ideia que, no tipo de condução feita (mais dinâmica e estrada de montanha), o ZOE, mais compacto e menos potente, teria tido um média de consumos superior. Isto porque acabámos com uma média de 17 kWh/100 km e, reforçamos, boa parte do percurso foi feito em ritmo muito elevado em estradas de montanha.
Não conduzimos o suficiente para esgotar a bateria, nem fizemos testes de carregamento, mas, a acreditar o computador de bordo, a eficiência demonstrada é uma consequência direta da nova plataforma, da aerodinâmica e do novo motor. Aliás, a Renault salientou que o desenvolvimento do Mégane E-Tech Electric originou cerca de 300 patentes, incluindo na tecnoloia do novo motor.
Uma das características mais inovadoras é o sistema de gestão térmico que permite fazer transferências térmicas entre três circuitos de climatização: bateria, motor e cabine. Isto significa que, por exemplo, o calor emitido pelo motor pode ser usado para aquecer a bateria.
Carregamento
Uma das boas notícias é a manutenção da capacidade de carregamento em AC de 22 kW, a que a marca francesa nos habitou em outros elétricos. O que permitir tirar máximo partido dos Postos de Carregamento Normais, de acesso mais acessível, e de wallboxes instaladas em casa ou no trabalho. Nestes carregadores, o Mégane elétrico deverás ser capaz de carregar uns 150 km numa hora. Uma vantagem importante perante a concorrência, já que a maioria dos carros elétricos têm uma potência de carregamento em corrente alternada (AC) de 11 ou mesmo 7 kW. Neste aspeto, o Mégane até será melhor que, por exemplo, o Tesla Model 3/Y.
Em carregamento rápido, a potência máxima é de 130 kW, o que permitirá recuperar uns 250 a 300 km de autonomia em meia hora.
Primeiro veredicto
O preço não será, como é hábito nos elétricos, ‘agradável’, variando entre cerca de 36 mil euros (para a versão com bateria de 40 kWh e motor de 96 kW) a 47 mil euros (versão testada, com bateria de 60 kWh e motor de 160 kW, e nível de equipamento de topo). Um valor penalizador para um carro que, apesar de todas as características, é relativamente compacto. Seria mais fácil justificar o valor pedido se o Mégane E-Tech fosse um pouco maior.
Por outro lado, o primeiro Mégane 100% elétrico deixou-nos convencidos. A dinâmica, a tecnologia a bordo e a qualidade de construção (bons materiais a bordo para o segmento) são trunfos importantes. É, mesmo, um elétrico de nova geração. Um salto qualitativo para a Renault e, em muitos aspetos, para o mercado.