Esplanadas desertas, praias a perder de vista, baloiços que oscilam vazios, castelos em ruínas debruçados sobre o Lago de Garda, campos agrícolas, uma mulher que contempla o azul profundo do Mediterrâneo a partir de um varandim em Capri.
As paisagens de Luigi Ghirri (1943-1992), pautadas pela leveza e inundadas de luz, são de quem as contempla, arriscando projetar o que vive dentro de si nos cenários que tem à frente. E, pela primeira vez, chegaram a Lisboa, graças a uma co-produção entre o CCB Centro de Arquitetura – Garagem Sul, a Festa do Cinema Italiano e a Associação Il Sorpasso.
Luigi Ghirri, Obra Aberta apresenta, até dia 4 de junho, no Museu CCB, uma seleção de 79 fotografias, criadas na década de 1980, ao longo dos últimos 12 anos de carreira daquele que é considerado o grande mestre italiano da fotografia de paisagem.
Apesar de as obras expostas serem, como sublinha a filha do fotógrafo, Adele Ghirri, “a ponta do iceberg de um acervo com 150 mil imagens”, o curador da mostra, Pedro Alfacinha, assegura que representam uma verdadeira metáfora para a totalidade da obra de Ghirri.
“Não é uma série, é uma reflexão sobre o espaço e a relação da vida com ele. Nos anos 1980, Ghirri voltou-se para a fotografia de paisagem e captou o espaço onde todos nós nos projetamos”, explica o curador.
Além de várias polaroids tiradas pelo artista nas décadas de 1970 e 1980, o curador escolheu também 31 fotografias de grande formato, “autênticas raridades” na obra de Luigi Ghirri, conhecido por trabalhar maioritariamente com formatos mais pequenos.
Para orientar a seleção, Pedro Alfacinha tomou como ponto de referência as ideias que o artista deixou escritas no ensaio A Obra Aberta, em 1984. Nele, Ghirri sublinhou diversas vezes a relação indissociável entre o interior e o exterior, “a história pessoal e a comunicação com o próximo” e manifestou a vontade de retratar uma “geografia sentimental em que os itenerários não estão definidos”.
De facto, cada fotografia exposta poderia ser o retrato interior de uma alma humana, representada sob a forma de espaços exteriores, livres da presença de pessoas e carregados de uma beleza levemente melancólica, mas tranquila.
Fotografar assim é olhar o mundo com tempo e criar imagens que, por sua vez, também pedem tempo para serem olhadas
Adele Ghirri, responsável pelo acervo luigi ghirri
“Fotografar assim é olhar o mundo com tempo e criar imagens que, por sua vez, também pedem tempo para serem olhadas”, comenta Adele Ghirri.
A filha do artista, e atual responsável pelo acervo do pai, comenta que, nos espaços retratados, ouve-se, mais do que silêncio, os pequenos rumores do ambiente. “Há uma tranquilidade imensa, difícil de encontrar no mundo real”.
É claro que as fotografias, sendo tiradas em Itália, retratam paisagens italianas, mas como nunca se vêm os típicos marcos turísticos, Adele Ghirri sublinha que “acabam por ser paisagens capazes de oferecer a qualquer pessoa, de qualquer país, um sentido de pertença e a sensação de voltar a casa”.
Luigi Ghirri – Obra Aberta > Museu CCB, piso 0 > Pç. do Império, Lisboa > até 4 jun, ter-dom 10h-19h > €5