As cidades têm muitas vidas. E Fabrice Guillot, diretor artístico e coreógrafo da companhia de dança francesa Retouramont, quer oferecer-nos mais uma. Ou várias. Bailarino e coreógrafo, Fabrice é também praticante de escalada. Leva muitos anos a trepar montanhas, de arnês à cintura e a ver o mundo lá de cima. Foi esta forma diferente de olhar para os espaços que quis trazer para a sua companhia artística, pioneira na dança vertical.
Nas cidades, as paredes dos edifícios, os muros que separam propriedades, os pilares que sustentam uma ponte são estruturas que sentimos como opressoras, limites à nossa liberdade de movimentos. Que nos tapam a vista e de certo modo agridem. Em cada espetáculo da Retouramont, o público é levado a ver, a sentir, os cantos da sua cidade como se fosse a primeira vez. Um muro é afinal um lugar para voar, que permite aos bailarinos desfiar as leis da gravidade em movimentos completamente anti natura. E de um momento para o outro, os limites transformam-se em possibilidades.
Na sua segunda visita a Lisboa, a convite da Fundação Champalimaud, no âmbito da iniciativa que cruza Arte e Ciência, Bridges to the Unknown, e da Associação de Turismo de Lisboa, a Retouramont leva este novo olhar ao Pilar 7 da Ponte 25 de abril, com o espetáculo Clairière Urbaine (Clareza urbana, em Português), que estabelece um diálogo entre o corpo e as formas arquitetónicas e urbanísticas envolventes.
Com duas sessões agendadas para este fim de semana, 16 e 17, Clairière Urbaine é ainda um jogo de sombras em que tanto conta a representação dos bailarinos como a das suas sombras, num jogo de luzes que desde sempre esteve presente nos trabalhos do coreógrafo. Que relação há entre um corpo em movimento e a sua projeção numa parede? Que leitura faz cada espetador da ação que se desenrola à sua frente? O que determina o foco de atenção de cada espetador? São algumas das questões presentes em cada espetáculo. E há ainda o medo, claro! Um medo que não é de forma nenhuma percetível nos movimentos fluidos e, aparentemente, naturais dos bailarinos, mas que nunca deixa de estar presente, admitiu Fabrice Guillot numa sessão de discussão com o público que decorreu na sexta-feira, 15, após a apresentação do espetáculo Matière Noire (Matéria escura) numa das paredes da Fundação Champalimaud.
O bilhete de acesso ao espetáculo permite também subir 26 andares no elevador panorâmico que leva ao tabuleiro da Ponte 25 de Abril, para (mais uma) nova visão da cidade.
Clairière Urbaine > Avenida da Índia, Pilar 7 da Ponte 25 de Abril, Lisboa > T. 21 111 7880 > 16 e 17 jul, sáb 18h30, dom 12h > €5 adultos, €3,50 estudantes e séniores